sexta-feira, 22 de junho de 2007

Polifonia

Eu não acredito na autoria.

Ninguém é autor de nada.

A originalidade não existe.

Pensa bem: em uma única manhã, que frases que você falou são suas e que frases vc pescou de lugares quaisquer, de pessoas quaisquer, livros, filmes, de experiências outras? Impossível discernir. Saber o que é meu e o que eu reapropriei de bocas alheias. Tudo isso se mistura. Vivemos em contato com as invenções do outro e as reproduzimos, reinventamos. O discursos são perpassados, há sempre múltiplas vozes em choque.
Isso de dizer que uma invenção é minha ou de outra pessoa é um erro ontológico. Vai contra a natureza social e processual do ser humano. Dependemos da alteridade.

A autoria, concebida dessa maneira, me parece muito pretensiosa. Tal idéia é minha, eu a tive devido ao meu gênio mais do que maravilhoso, e ponto. Que falácia. Por isso mesmo, prefiro o termo organizador. Pronto. As coisas vem a mim, eu as organizo segundo uma lógica minha. Isso sim. A originalidade caminha por aí. Mas a origem das idéias não sou eu, exclusivamente eu, somos nós.


(não, não vou colocar a bibliografia.)

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