segunda-feira, 27 de abril de 2009

Algo mais bonito que o outono no Rio?

sábado, 25 de abril de 2009

Nise, não lamentes seu estado

Uns versinhos do satírico, erótico e boca-suja Bocage, que acabo de tirar da estante. Nise, não lamentes seu estado.
Com amor, para os mais puritanos leitores do brógui.

*

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.

Em cena no Rio

Um post preguiçoso sobre três peças que vi recentemente.

Vi Hamlet, dirigida pelo Aderbal Freire, com Wagner Moura no papel principal. Eis um Hamlet, o louco são, o ardil que passa do questionamento à ação, o diretor e ator de sua própria tragédia. O uso da câmera foi apropriado e bem feito, não me deu ânsia de vômito. Gostei. Bastante.

Vi Rock´n Roll, do Tom Stoppard, dirigida pelo Felipe Vidal e mais um cara. O texto é genial, a peça é bem feita, embora com soluções cênicas um pouco aborrecidas. Dei um certo azar: vi em um dia em que os atores estavam meio mal. O Thiago Fragoso quase leva um lustre na cabeça. É teatro, a cada dia acontece uma peça diferente, reze pelo dia em que você for ver alguma coisa.

Vi "In on it", dirigida pelo Henrique Diaz, uma peça de um dramaturgo canadense cujo nome deveria tatuar na testa, assim que souber qual é. Um único comentário sobre o espetáculo: saí completamente transtornada.

Eu ia falar alguma coisa sobre arte e transtorno, ia defender que a arte só existe como algo que rompe o banal, que dilacera o senso comum, mas, como disse no início, estou com preguiça. Então vou pra praia, ali no posto nove de Ipanema. Talvez nove e meio.

Um dia, em uma portaria de um teatro, o porteiro me barrou. Já ia puxando a carteirinha e a identidade quando o cara, blusinha azul claro e calça social preta, me olhou firme: você está de braços cruzados! Em teatro e igreja não se entra de braços cruzados. Só deixo você entrar se descruzar. Podia ter dito que ele não era meu pai nem guarda civil e muito menos ortopedista pra dizer o que fazer com os meus braços, mas simplesmente obedeci, feliz da vida. Ele tem razão.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Pá: ferramenta composta por um cabo e um recipiente depositário, utilizado para enterrar os mortos, desenterrar ossos, colocar areia no baldinho e plantar um pé de feijão.

Outros usos dados ao termo, recentemente escutados:

"Saí com a menina e pá."
"Daí você pega Sartre e pá, pá, pá, só no existencialismo."
"Você pega a primeira a direita e pá, pá, para aquele lado, e já chegou."
"Comigo não tem essa. É pá-pum."

Ou seja,

Pá: aquilo que não se sabe dizer. Substituto universal de todas as palavras.

(e mais respeito com os mortos, por gentileza).

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Eu, Sean, as formigas

Venho por meio desta declarar meu apoio incondicional ao menino Sean.
Não me meto em imbóglios jurídicos e diplomáticos, mas é impossível ficar inerte diante da ameaça de levarem o menino Sean para os Estados Unidos. Essa não é apenas uma questão de direitos da família: é uma questão poético-ecológica, que me afeta profundamente.

Li no jornal, na semana passada, algumas declarações do menino a um bravíssimo comitê de psicólogas: "Na última vez em que estive na casa do meu pai americano, fiz muitas coisas. Joguei vôlei, basquete e joguei formiga na teia de aranha". Pois bem. Se o menino Sean retorna à terra natal, com quem mais eu vou dividir o meu gosto por atirar formigas na teia de aranha?

Tenho uma afeição especial por formiguinhas. Tão pequeninas, tão delicadinhas. Andam em fila, as trabalhadoras. Me demoro a observá-las carregando com esforço um pedaço de folhinha verde, que irá alimentar o bando inteiro. Com carinho e amor, escolho uma delas, tiro a folhinha da carcaça, dou um ligeiro peteleco. A formiga não fica desnorteada, continua andando, embora tenha eu certeza de que está puta comigo. As formigas são assim, não se expressam muito, bichinho orgulhoso. Com algumas, eu disfarço: tiro a folhinha, finjo que não fui eu, vou dar uma volta, até assobio uma canção antiga. Certas formigas são espertas, não posso dar mole.
Atirar formigas na teia de aranha, menino Sean, anda difícil hoje em dia. É preciso juntar duas coisas quase em extinção. Meus criadouros de teia de aranha têm sido lamentavelmente atacados por desinfetantes de última geração, verdadeiras bombas químicas, as pessoas são maldosas, menino Sean. Nunca mais pude treinar fazer uma deliciosa bolotinha de formiga, calcular a força e atirar com precisão no meio da teia de aranha, de modo que ela grude pelas patinhas e fique ligeiramente inclinada, com a cabeça na direção do chão.

Portanto, menino Sean, fiquemos os dois aqui, atirando formigas. Em Botafogo ainda há algumas teias.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

de volta

Estou de volta. Agora ostentando o título de mestre em comunicação e cultura. Preparem-se para textos altamente intelectualizados, todos com base foucaultiana.
Como não sei bem o que escrever nesse post de reabertura, vou colocar aqui uma questão que uma amiga querida, intelectual e artista proeminente, me fez por email:
Que fim levou a Cristina Aguilera?

Tenho algumas sugestões:
1. Levou uma machadada na cabeça.
2. Levou um quebrador de gelo na cabeça.
3. Está cantando e dançando em um cabaré na Lapa de Berlim.