sábado, 30 de agosto de 2008

Onde mais há mar, dunas, bolo de rolo, tudo ao alcance de um grito?
Sem opção: apenas lá.
Por isso vou fazer uma pausa para um biscoitinho.
Até já.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Seu João se orgulha da profissão do filho.
O Vitinho é help desk, nome bonito, né? No meu tempo tinha isso não.
Seu João dorme de bruços porque tem medo do escuro,
coisa que help desk não sabe consertar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

piscadas

impressionante como de uma hora para outra são ouvidas em todo canto da cidade histórias de pessoas tetraplégicas que só conseguem se comunicar com piscadelas - e que alcançam feitos heróicos a partir disso, coisa que muita gente com boca, mãos e internet não consegue.
o filme é lindo, eu sei, mas não imaginei que ia gerar esse debate todo, principalmente na cesta de laranja lima do Hortifruti.
só ontem eu escutei umas três vezes alguém explicando para outro alguém como se comunica com piscadelas. é assim, ó: [piscadela]. não, é mais devagar, prestenção: [piscadela].
me questiono honestamente se essa não é uma modalidade mórbida e furada de dar em cima do outro.
a que ponto chegamos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

tem uma formiga embaixo da vírgula.

a formiga admiradora de Saramago me faz escrever grandes parágrafos sem pausa para respiração.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cantadas

as cantadas têm estado cada vez mais especializadas. nada de obviedades, elogios, convite para ir ao cinema. sinal, blergh, dos tempos, blergh de novo. por ser mestranda e karateca (e outras coisas que não devo escrever aqui, pois essa é uma página decente), tenho ampliado meu repertório. continuo preferindo o telefone do cachorrinho. e o meu namorado.

"quer ir lá em casa conhecer o meu panóptico?"
cantada com bibliografia escutada no corredor de uma instituição de ensino séria

"ah, vc estuda o melodrama? vamos nos dar bem. eu também sou sado-maso."
cantada com ar de confidência, após conversa sobre o futuro da ficção

"vc não quer dar um pulo lá no do-jo de shotokan da Ilha?"
cantada seguida de um soco na altura do estômago

domingo, 17 de agosto de 2008

Botafogo é parte da Zona Sul B, conforme denominação de um amigo meu.
Botafogo se encolhe tímido entre Copacabana e Flamengo, sem a popularesca putaria de uma e sem a elegante decadência do outro. Botafogo descuida de si, em suas ruas maltratadas e sempre em obras, em seus engarrafamentos intermináveis, cuja causa é sempre qualquer coisa idiota, indigna de ser narrada no jantar. Botafogo não quer ter atenção. Ao contrário: gosta de expulsar seus visitantes para qualquer canto da cidade, seja de ônibus, metrô, táxi ou de vans piratas com moleques berrantes. Talvez para aumentar a sua derrocada, Botafogo é um bairro nacionalista. Ostenta vias de nomes pomposos, Voluntários da Pátria, Real Grandeza, que são pronunciados como nomes de virose pelos habitantes - incapazes de viver sem os tropeções nas calçadas estreitas. Apesar da ênfase patriota, Botafogo nunca foi palco de um acontecimento histórico que justificasse seus nomes, mas toma isso sem a menor amargura. As favelas de Botafogo não são nada demais. Não brilham como a Rocinha e a Maré e não têm traficantes de alto renome. Quem sabe as favelas de Botafogo talvez preferissem se mudar para a Tijuca.
Não se faz nada suportável em Botafogo.
Aqui se pode ir ao médico, pagar contas, fazer abdominais, comer no chinês e, por que não, morar.
Eu vejo Botafogo do alto. Ainda assim, dentro dele.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

olha, no salto ornamental masculino eu torço pelos colombianos.
a contagem regressiva deles é estupenda.

(Você acabou de ler a opinião de
Clara,
ansiosa pelos lançamentos de disco.)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

preciso parar de suar.
apenas por um instantinho
parar de suar.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dandalunda
Janaína
Marabô
Princesa de Aiocá
Inaiê
Sereia
Mucunã
Ana Maria
Dona Iemanjá

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O quartel é logo ali

Morar atrás do Palácio Guanabara tem lá a sua formosura. Não vejo nada do que acontece lá dentro - graças - mas posso ouvir certas coisas. Ontem fui pegar uma fresca na varanda e pus-me a escutar o quartel que faz a defesa do palácio. Enquanto dedilhava o livro de um escritor brasileiro novato metido a modernex, meus ouvidos estavam em outra sintonia.

9.39: ensaio da banda do palácio. Hino nacional. Primeira parte caprichada. Confesso que balbuciei umas palavras. Adoro o "fulguras, ó Brasil, florão da América".

10.15: carruagens de fogo. Seria uma homenagem às olimpíadas? O cara do trompete desafinou várias vezes.

10.35 música da vitória do Ayrton Senna. Hã? Isso mesmo, música do Ayrton Senna, aquela cujo nome eu desconheço, mas tenho certeza de que você me entendeu.

10.47: treino técnico de tiro com revólver. Tiros secos executados a intervalos precisos. Alguns gritos de orientação: "Segura isso direito, Jurandir."

11.56: treino truculento de tiro com metralhadora, sem técnica nenhuma, entremeado por risadas.

Divertida, essa minha cidade.