sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Fita Branca

Anteontem vi o A Fita Branca, badalado filme do Michael Haneke. Foi uma experiência cinematográfica estranha. Quando eu digo experiência cinematográfica, favor entender direito: é aquilo que começa quando compramos o ingresso, depois entramos na sala escura, vemos o filme, saímos. Mais ou menos isso (Ismail Xavier se rebolando todo com essa minha abreviação). Pois bem. Pra começar, eu e minhas amigas compramos o ingresso, depois resolvemos vender e mandamos um papo caótico na bilheteira, que, por ser xará de uma de nós, pareceu convencida do trololó. Eis que, cinco minutos depois, mudamos de ideia: compramos os bilhetes de novo. Urrando de fome, eu comprei um pipocão e estraguei no minuto seguinte, colocando meio quilo de adoçante, em vez de sal. Além disso, ápice do desconforto, o cinema estava um gelo. Como bem diagnosticou minha amiga, "rolou uma Sibéria". Eu tive que meter meus bracinhos na calça de ginástica que estava na bolsa para aguentar até o fim. Uma espécie de casaco marciano.

O filme, um drama fotograficamente muito bem resolvido, trata de uma série de crimes ocorridos na Alemanha do pré-guerra. Não sei se pela condição desfavorável do frio, o fato é que saí de lá sem gostar. Apesar dos personagens fortes, não me entusiasmou.

Não? O ser humano, por incrível que pareça, é humano, e muda de opinião. No meu caso, de um dia para o outro. Três cenas não saíram da minha cabeça. Vou escrever aqui o que lembro. Que fique claro que não são os diálogos do Hadeke, são os meus diálogos do Hadeke.

O menino, depois de fazer uma manobra de risco, atravessando uma espécie de ponte sobre um abismo:
"Dei a Deus a chance para me matar. Ele não me matou. Então eu devo ficar vivo."

O médico, humilhando a sua amante:
- Você fede. Tem mau hálito. É podre. É horrível.
- É o meu problema de úlcera, você já sabe disso.
- Eu só transo com você pensando em mulheres mais jovens, mais bonitas, com a pele boa.
- Você vai ter que me aguentar até o fim.
- Você não presta. Só que uma vez a cada dois meses é muito pouco para mim. Mesmo estando velho.

A menina, chorando resignadamente depois de ser estuprada pelo pai, para o seu irmão mais novo, um lindo menino de quatro anos:
Está tudo bem. Ele só furou a minha orelha. Dói um pouco.

Não dá pra dizer que o filme não deixou lastro em mim, embora gostar não seja o verbo apropriado. JP Coutinho explicou parte do descontentamento com maestria, em artigo publicado na Folha de São Paulo da última terça (não achei na web, para linkar).

Bem. Essa resenha ficou com um pouco mais de três palavras.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Quero mudar de opinião.
Alguém me convence, por favor.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Resenhados

Estou com planos de inaugurar uma seção de resenhas literárias aqui no blog. Meus textos primarão pelo teor de análise teórica pós-moderna e simbólica, sem esquecer do marxismo utópico e das atuais correntes que celebram o relativismo absoluto.

Tudo isso em três palavras.

Bem-vindos, pois, às resenhas de três palavras.

Começo com as leituras que fiz ontem, entre 23h15 e 1h37, no sofá verde da sala. (Tenho que colocar uma capa nova. A verde esquenta muito. Mas dá pra ler mesmo assim.)

Êxodo, conto do Mario Benedetti publicado na última Piauí:
não embarquei.

All That, conto do David Foster Wallace, publicado na The New Yorker:
invejinha das boas.

Revistinha da Luluzinha Teen, episódio 1 da 3a. temporada, o mais fresco das bancas:
Beija logo, Bola!

Aos entusiastas do estruturalismo, não sei se prometo um embasamento mais furta-cor e cintilante da próxima vez.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Daí arregalou os olhos, espremeu um pouco:
Eu te amo.

Por quê?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nutro especial ódio por pessoas que metem palavras e expressõem em inglês em qualquer frase, como se isso fosse fucking-cool-super-hype. Esnobismo sem criatividade, muito em voga por essas bandas. Se fosse alemão, levaria mais a sério.

Minha única concessão ao estrangeirismo fica por conta da palavra pillowcase.

Simples: eu não gosto de fronha. Não do objeto, mas da palavra. Nem o som cai bem.

Algo que abriga, o case, é mais poético, mais aconchegante. Fosse eu um travesseiro, adoraria poder contar com um lençol próprio, feito para o meu tamanho, em que eu me enfiasse à noite.

Isso fora o fato de que fronha parece xingamento. Parecido com almofadinha.
Enfadadas fronhas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Algarismo

simbolismo, altruísmo, surrealismo,

algarismo.

(Não sei bem o que pensam as algas, mas gosto mais delas. Algarismo.)

Medinho

Tenho medo de praticamente tudo.
Trabalhar, perder o celular, deixar a menstruação vazar na roupa branca, não conseguir tirar o besouro que entrou na sala, ficar parada com o carro na linha vermelha.
Tento lembrar algo de que não tenha medo. É difícil.
Nos top five dos medos está escrever. Nem medo, é pavor. Eu tremo, reluto, sou uma cagona. De qualquer modo, continuo escrevendo.
O que mais gosto em estar com medo é saber que estou - daí vem a coragem, um rubor que nem demora a subir. Exemplo: não sei se conto isso ou aquilo para a minha analista. A dúvida dura cinco segundos: conta, sua besta, deixa de ser medrosinha, não vai encarar por quê? Daí vou lá e conto. E é bom. A mesma coisa com escrever: dá vergonha, não sei onde vou parar, mas, se estou apavorada, não posso recuar, tenho que ir adiante. É uma necessidade.
Adoro sentir medo.
Me amedronta?

*
Fiz esse post meio livro de auto-ajuda também para dizer que, na real, não me acostumo a redigir no twitter. Não pela restrição de caracteres, mas porque gosto de escrever sem me sentir lida. Aqui vale, eu tenho a página em branco, é minha, meu brinquedinho, não sei que olhar me vê. Lá não. Ainda me surpreende, depois de tanto tempo, perceber que tem gente que entra no Ovelhas, que comenta. Leiam escondidos, ok? Eu escrevo escondida. Pronto, fizemos um pacto.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

caraca. voltei a escrever.

Onde se compra minério?
Me bateu uma vontade de construir uma ferrovia.

Por que as abelhas morrem quando picam?

Texto que eu fiz para um quadro educativo infantil de um lance na produtora em que sou roteirista, para ser ilustrado a la ilha das flores. Escrevi na ressaca do Carnaval. Nego adorou, mas não aprovou. Falaram que ficou ótimo, mas meio pesado para um infantil. Estou tentando entender.


Por que as abelhas morrem quando picam?


Abelhas são insetos que despertam medo, terror e muitas abanadas desajeitadas. O que pouca gente sabe é que esse ser inspirador de fantasias de Carnaval tem vocação suicida. Isso mesmo. Tal como Kurt Cobain, Virginia Woolf e Getúlio Vargas, abelhas também se matam. E sem se atirar de pontes, sem descarregar armas em seu corpinho listrado e sem tomar coquetel de remédios.

Quando é importunada por cheiros fortes, por vibrações sonoras, ou em qualquer situação em que se sente ameaçada, a abelha pica. E a picada se torna um ataque contra si mesma, pois o ferrão é o prolongamento do abdômen e rompe no momento em que ela abandona a vítima.

Pobre abelha: o crime não compensa.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

No ônibus,
muitos conhecidos.
Mas eu tenho preguiça de falar, preguiça daquele Olá, como vai, toma um sorriso, eu vou bem, até já, toma um aceno.
Daí volto o rosto para baixo, finjo que estou dormindo.
E observo as varizes.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A palavra atrai o meu olhar.
Meus olhos viram intuitivamente para qualquer canto onde exista algo escrito.
Isso é tortura, mas, já que não tem jeito,

*
Apresento-vos as mais frescas visões que tive no 409, trajeto Horto-Botafogo:

1.
Aproxime o cartão - boas festas - aproxime o cartão - boas festas - cartão não identificado - aproxime o cartão - sem crédito - boas festas - favor recarregar - aproxime o cartão.

2.
Tudo peça ao homem da quarta fornalha.

*
Fornalha, até então, era a loja-podrão-disfarçado do Humaitá que serve estrondosas coxinhas com catupiry. Eficiente na tarefa de matar a fome na madrugada pós-noitada. Agora, posso pedir alguma coisa ao homem da quarta Fornalha. Estou aqui pensando no meu pedido. Será cruel.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Três novos personagens na minha prateleira.

Joanna, com dois Ns, adora pessoas com cara de soninho. "Ficam aconchegantes", relatou, enquanto a garçonete trazia o seu café.

Lobato, cujo prenome é desconhecido, coloca o celular entre as pernas enquanto está dirigindo e tem medo de pegar câncer no testículo caso alguém ligue. Mas nunca contou isso pra ninguém.

Pedroca, aparência de 31 anos, duas ex-mulheres e uma herança de tio-avó paterno, está aprendendo a mergulhar de cabeça. Por enquanto, só barrigada.