sexta-feira, 30 de março de 2007

Aritmética das árvores

Mangueira carregada: 2 anos
+
Vassoura de cabo grande: R$ 7.00
=
Haja fio dental


Esteira pequena: R$ 10.00
+
Amendoeira grande: 10 anos
=
Cochilinho de roncar e babar

quinta-feira, 29 de março de 2007

A santa e a puta

Hoje fui a um muquifo na Lapa. Muquifão mesmo. Putas, transeuntes, bolivianos, coisa e tal.

Lembrei de um texto do diário da Maria Mariana, que depois virou aquela peça "Confissões de Adolescente". Acho que o texto se chamava "A briga da santa que há em mim com a puta que há em mim".

Com 16 anos a gente se dá conta de coisas muito legais. Toda mulher é santa e puta, e isso é legal pra dedéu.

estuda pra caralho, santa
picareta o trabalho, puta
sorri pro cobrador, santa
debocha sem pudor, puta
quer a paz mundial, santa
dá mole pra geral, puta
planeja uma viagem, santa
carrega na maquiagem, puta

quarta-feira, 28 de março de 2007

Aritmética dos pêlos



Axila: R$ 10,00
+
Virilha: R$ 15,00
=
Fui pra praia e dei tchauzão pra todo mundo.



suadouro Rio 40 graus
+
pentelho no sabonete
=
tranquei o meu irmão no quarto e coloquei Terrasamba para ele escutar

domingo, 25 de março de 2007

o tocador de pratos

O profissional mais estressado do mundo não é o cirurgião da emergência do Miguel Couto. Nem o grande executivo da grande multinacional. É o tocador de pratos de orquestra.

O cara estuda as partituras, vai aos ensaios, se empenha ao máximo. Tudo isso para q? Para aquele segundo do pam. Na apresentação, lá está ele, no fundo do palco. Os bracos segurando os pratos no alto, um de frente pro outro. Ele pode ficar horas nessa posicao, esperando o momento de tocar. Um movimento, dois três, mil. Daí de repente ele se prepara e - pam!- junta os pratinhos euforicos. Senta, dá uma relaxada e volta para sua preparação. Quando a musica eh mais agitadinha, pam, pam, pam, ele tem mais chances de mostrar sua arte.

Mas veja só o estresse: se o violinista errar, ninguem repara. Tá ali, zzzzzzz, no meio do bolo. Se o tocador de pratos errar, se ele tocar, pam, na hora errada, pá, ferrou, todo mundo vai reparar, a orquestra inteira vem, zupt, pra cima dele. Ele será escrotizado para o resto da vida, blé. Perderá, snif, snif, o emprego para sempre.


O tocador de pratos é o cara que aposta em um momento.

quarta-feira, 14 de março de 2007

O Bakhtin que há em mim

Eu e Bakhtin temos muito em comum.

Bakh nasceu na Rússia, em 1895, um frio da pinóia. Desde os sete anos ele teve que mudar de cidade constantemente. Aos 24, fazia parte de um grupo que reunia intelctuais das mais variadas áreas, artistas, etc, o conhecido círculo de amigos de Bakhtin. Eles faziam discussões bastante produtivas, muitas delas resultaram nos maravilhosos escritos que Bakh deixou para nós. A partir de 1929, começaram as perseguições na União Soviética, e Bakh mudou-se seguidamente: Leningrado, Kostanai, Saranski. Coitado. O círculo de amigos vira e mexe se reconstruia, eles não arredavam pé. Ah, quase me esqueço, Bakh sofria de uma doença seríssima nos ossos, que provocava dores terríveis nos quadris e fez com que ele amputasse a perna direita. Áfi maria. Seus trabalhos nunca foram reconhecidos enquanto ele teve vida. Ele nunca ganhou títulos acadêmicos.
Bakhtin hoje é considerado um gênio. Brilhante, magnífico, monumental. Uma coisa. Seu trabalho repercute em vários outros, nas mais diferentes áreas: linguística, comunicação, teoria da literatura. É o cara.

Sim, e o que tenho eu com isso? Bakh era fumante. Eu não sou. O fato é que, quando a guerra apertava, havia escassez absoluta de materiais, e Bakh não tinha como enrolar seus cigarrinhos. Daí ele não tinha dúvida: pegava seus escritos, enrolava o tabaco e fumava. Me senti muito identificada. A primeira vez que fumei, com uns amigos, no Parque Lage, a gente também não tinha com que enrolar. Não que o Rio estivesse em guerra, foi inexperiência mesmo. Mas tinhamos acabado de receber o resultado de uma prova de álgebra. Fumamos a prova. Os números se desenrolando em nossas mentes. Genial.
No caso do Bakhtin, fiquei com pena, ele pode ter fumado muitas idéias revolucionárias. Mas tudo bem. Cada um com seus escritos.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Juízo não precisa de dente


Eu nunca vi nada mais primitivo que arrancar os sisos. Você vira gente grande, tá ali com os dezoito, cheio de amor pra dar, praia, cinema, faculdade, e surge um ET na sua boca. Já era.

Vc tem que ir so dentista: doutor, meus sisos nasceram. O babaca responde: tá virando gente grande, hi-hi-hi, vamos tirar isso bem rapidinho, não vai doer nada, sem susto. Daí ele lava as mãos com um sabonete especial revolucionário para dentistas. Como o mundo está evoluído. Ele bate um raio x para precisar exatamente as proporções do dente. O mundo está mesmo muito evoluído. Daí ele aplica uma anestesia e quase não dói. O mundo está evoluído demais.

Daí ele dá um grito de guerra, bate nos peitos, pega uma marreta, enfia a mão toda na sua boca, vem sisinho, vem sisinho. Apóia as pernas na cadeira, pega o santo, coloca mais força, o cotovelo já está dentro da sua boca, vem sisinho, vem sisinho. Puf, aaaaaaiiiiiii, lá está o dente. Grande e pontudo, parece de elefante. E o dentista, triunfante, com aquela coisa sanguinolenta na mão: toma, leva pra casa. Pra quê? O que eu vou fazer com isso? Assustar criancinhas? Guardar com as cinzas do tataravô?

Podia muito bem ter nascido sem sisos. Tem gente que nasce sem nenhum, isso sim é evolução. Mas já ouvi falar de um cara que nasceu com sete. Juízo demais para o meu gosto.