segunda-feira, 9 de julho de 2007

gordos e quinquilheiros

Muito se fala sobre a alma de gordo. Fulano tem alma de gordo! Se bem entendi, alma de gordo é, na verdade, um gordo auto-censurado. Que vive fazendo contas e tem uma tabela de calorias em eterno funcionamento. O sujeito desejaria ser um glutão, viver à mesa, engolindo chopp, frango à passarinho, bolos, pastéis, babar-se de fritura, de molhos, de bebidas, celebrar a fartura. Mas algo dentro dele diz que não, não posso comer tanto assim, por isso ele faz uma contas aqui, outras ali e acaba não comendo tanto. Maldito discurso da saúde. Mas a alma persiste, alma de gordo.

Pouco se fala, entretanto, sobre a alma de quinquilheiro. E olha que ela atinge muita gente nesse mundo em que a memória tem que estar sempre tão intocada. O quinquilheiro não padece da auto-censura da alma de gordo: ele simplesmente não joga nada fora, e isso não é motivo de sofrimento. Aquele bilhetinho que você mandou para sua amiga na quinta série? Guarda, um dia você pode olhar para aquilo e sorrir. Aquele nauru furado chulepento? Guarda, um dia você pode querer fazer um estilo. Aquele armário comido por cupim? Guarda, vai que um dia você quer fazer uma instalação. Aquela impressora do século passado que não funciona mais? Guarda, pode ser brinde na festa junina.

E nisso, o quinquilheiro vai precisando de espaço para acomodar seus breguedeques. Primeiro um quarto, que ganha o carinhoso apelido de "quartinho da bagunça". Depois, o quartinho da bagunça vai tomando conta da sala, dos corredores, do banheiro. Sim, banheiro. Aquele frasco de xampu? Aquele naco de sabonete? Guarda!

Em tempos de Live Earth, declaro que a alma de gordo é mais benéfica à natureza do que a de quinquilheiro.

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