quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Houve uma época em que vivia cercada por poesias. Copiava poesias em letras bolhudas, dobrava o papelzinho e colocava na carteira, na pasta do colégio, no estojo dos óculos. Abria o livro de química e, uau!, alguns segundos de João Cabral no meio da manhã. Ia comprar Chicabon e me deparava com Plath na carteira. Isso sem contar com Pessoa, que me pegava desprevenida enquanto enquanto comia um joelho no chinês, e com Prevert, que apareceu bem quando me insinuava para aquele menino do colégio que nunca me deu bola (tudo bem, ele era da oitava série e eu da sétima, meninos da oitava são muito maduros).
Um belo dia, enchi da brincadeira. Achei bobo demais eu mesma provocar minha pequenas diversões ao longo do dia. Cresce, garota. Um, dois e três. Nunca mais futuquei a bolsa e achei poesia em vez de cartão de crédito.

Dia desses estava procurando um texto acadêmico que tinha que ler pro dia seguinte. No meio da pilha monstra de cópias aterrorizantes que acumulam pensamentos sufocantes, encontrei um papel. Era pequeno e estava dobrado em quatro. "Felicidade se acha é em horinhas de descuido", ele me dizia. O verso, bem se sabe, é de Guimarães Rosa. Mas não a letra, que remoí bastante e constatei que não era minha, nem aos sete, nem aos oito, nem aos dezoito anos. E possivelmente não será aos sessenta.

Acho que já sei quem foi.

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