segunda-feira, 10 de setembro de 2007

as risadas

Atrás da porta, ouço risadas. O velho entra, eu fico do lado de fora. A porta entreaberta deixa escapar uma luz intermitente, que em nada combina com o cheiro agudo e desesperante de bicho podre que vem do mesmo lugar. As risadas pesam no ar. O velho percebe que não entrei e retorna a porta, abrindo-a mais um pouco. Tento espiar, mas não adianta.

Risadas sempre me amedrontaram. Nunca consegui me convencer de que risadas seriam expressão de felicidade. A felicidade não tem ruído, é seca e muda. Risada ou é nervosismo ou conivência social. Mas as que saíam daquela porta, eu não saberia definir. "É aqui, venha ver!", o velho me seduzia. Dei um passo à frente. O mural na parede me fitava. A rua lentamente ficava para trás, e eu entrava em outra dimensão.

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