quarta-feira, 31 de outubro de 2007

a evolução da espécie

Antes da formação dos continentes, havia um grande rocha. Antes dela, um emaranhado de larvas e pedras e bichos estranhos. Antes desse emaranhado, apenas oceano. Antes do oceano, apenas um lago. Antes do lago, a primeira onda. E antes da primeira onda, o primeiro surfista.

O primeiro surfista era um cara paciente. Ainda não falava bróder, nem qualé, porque a língua não havia sido inventada. Teria que esperar talvez a passagem do paleolítico para o neolítico para poder fazer um cordãozinho para o pescoço, mas não tinha pressa. O cabelo era comprido, pois não tinha como cortar, e assim ele se achava moderninho. O primeiro surfista não sabia quando o mar ia dar onda boa. Na verdade, não sabia nem quando o mar seria mar, e as ondas seriam ondas, por isso se contentava com as primitivas marolas pós-Big Bang. Era apaixonado por uma havaiana de cabelos longos e dançarina de hula-hula, mas ainda teria que esperar o Havaí ser inventado para encontrá-la. Cantarolava umas músicas de Bob Marley, mas sabia que o rastafarismo era coisa dos anos sessenta, e muita água ia rolar antes disso. Depois disso e durante isso. O primeiro surfista não precisava tomar calmante. Era, ele próprio, a calmaria. Que, quem sabe, trouxe Cabral até aqui.

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