domingo, 12 de outubro de 2008

Sobre rímel e arte marcial

É preciso uma certa teimosia para ser karateca, principalmente karateca-mulher. Primeiro, temos que assumir a vontade de enfiar a porrada em todo mundo, o que choca muita gente. As pessoas não costumam entender que a vontade de bater é algo que convive muito bem com o gosto por batons e perfumes marcantes, só não costuma combinar com a afinidade por literatura cor-de-rosa. Além disso, é preciso uma certa teimosia com a aprendizagem da própria técnica, porque subitamente ficamos sabendo que temos dois braços e duas pernas e que - incrível! - os movimentos entre eles podem ser combinados e até controlados pelo cérebro. Hoje em dia eu dou graças por não ter nascido polvo.

Os chutes circulares são os mais difíceis. Se chamam Yoko Geri Keage (chute lateral ascendente) e Yoko Geri Kekomi (chute lateral em penetração). No Keage chutamos o rosto ou o peito do adversário, partindo em seguida para uma seqüência de pancadas, como por exemplo a quebra da clavícula, que aprendi dia desses com muito entusiasmo. Já no chute Kekomi o objetivo é penetrar o quadril do oponente, arrasando com tudo o que possa existir naquela região. A questão é que é necessário um controle absurdo da perna para isso: temos que ter força, precisão, tentar não estropiar o joelho, não cair, gritar para liberar a energia na hora certa e ainda sorrir delicada e sarcasticamente para o adversário (descobri há pouco: o sorrisinho é uma arma letal a ser combinada com os chutes).

Quanto mais difícil fica, mais eu me empenho. Adquiri alguns manuais e tenho treinado movimentos nos pontos de ônibus e nas filas para comprar ingresso pro festival de cinema. Acho que para completar só me falta comprar um rímel à prova d´água, pois tenho suado muito nas aulas de karatê.

3 comentários:

Paulo César Nascimento disse...

Compre rímel para ninjas. Ele não sai com o suor e dá um ar mais ameaçador a quem usa. Não sei onde vende, mas basta mandar um e-mail pro Sho Kosugi que ele lhe informa.

Bjs

Clara disse...

Paulo, eu não sei bem como ficaria com rímel para ninjas. Em todo caso, vou tentar. Se resultar pavoroso, uso só nas aulas e depois tiro. E não vou dar maiores detalhes sobre o que faço profissionalmente, é bem melhor vc imaginar sozinho. Posso dar dicas: já sonhei ser astronauta e diplomata, mas nunca desejei cuidar de cães. Um beijo e seja bem-vindo!

Paulo César Nascimento disse...

Eu não costumo imaginar o que as pessoas fazem profissionalmente; prefiro imaginar o que fazem amadoristicamente, por puro prazer. Mas como você deu as dicas, não custa tentar: você já quis ser um personagem do Maurício de Souza e um chocolate da Nestlé, mas não suportaria ser cozinheira de um restaurante coreano? Algo me diz que você é jornalista ou redatora publicitária. Bjs