segunda-feira, 24 de março de 2008

O invento

Era uma dia de verão. Estavam lá os homens reunidos fazendo nada em um terreno baldio. Um corria girando os braços e o outro fazia polichinelo. Um conversava com as nuvens à direita e o outro cantarolava versinhos. Um se despia sem parar e o outro preferia ler Camus. Um procurava formigas trabalhadoras, outro mirabolava sobre a invenção dos chips cerebrais.

Até que chegou o homem que carregava algo. E ele disse, não é algo, é bola.

Daí o homem que procurava formigas falou, passa a bola pra mim. E o homem que carregava algo respondeu, pode até ser, mas só se depois você passar para o homem que lê Camus. E o homem que lê Camus se meteu, você pode até passar para mim, mas só se for com os pés, daí depois eu giro e jogo com os pés pro homem que cantarola versinhos. E o homem que cantarola versinhos ficou assim meio raivoso, eu não vou mandar pra ninguém, eu vou mesmo é acertar algum lugar. Daí o homem que mirabolava sobre a invenção dos chips cerebrais provocou, pra você acertar um lugar é preciso saber que lugar é esse, ô animal. E o homem que fazia polichinelo resolveu tudo, vejam só que fácil, eu pego umas formigas mortas do homem que cata formigas e faço uma marca no chão para marcar o alvo. Finalmente, o homem que carregava algo falou que não era alvo, era gol.

Depois daquele dia de verão, nunca mais se fez nada no terreno baldio. Fazer nada agora tinha regras e nomes, como falta, escanteio, toque e quatro-quatro-dois. Fazer nada era muito mais divertido assim, pensavam os homens do terreno. Que continuava baldio, mas agora tinha muitas formigas mortas em linha reta. E para quem não sabe as regras do nada, cartão vermelho.

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