quinta-feira, 6 de março de 2008

Dias desses fui à casa de um amigo, em Copacabana. Toquei o interfone no portão de fora. O porteiro simplesmente abriu a porta, sem perguntar o meu nome e para onde ia. Fiquei um pouco ressabiada. Então ele não me achou perigosa? Na entrada do prédio, informei, com a voz soturna: bom dia, vou pro 1304. O porteiro: primeiro elevador à direita.
Ele não perguntou o meu nome. Não consultou o meu amigo para saber se eu podia entrar. Ele realmente não tinha me achado perigosa. Não considerou que eu poderia ser um atentado aos moradores do lugar, nem que poderia ter planos escusos para assaltar todos utilizando apenas um cortador de unhas.
Fiquei preocupada. Uma pessoa como eu não pode passar despercebida. Sou uma ameaça. Sou uma revolucionária à espera do chamado. Lembrei-me das aulas de tiro com Fidel, das lições de direção defensiva em São Paulo, do curso para golpistas políticos em russo. Definitivamente, aquilo não poderia ficar assim. Utilizei uma técnica que aprendi num curso online de disfarçatez em primeiro grau e virei-me para o porteiro olhando para os lados, como se estivesse esperando um sinal para atacar dos meus companheiros de combate. Perguntei baixinho: o senhor não vai interfonar? Ele, com os olhos grudados no jogo de futebol: pode subir, senhora, tem problema não.
É. A sociedade não está mesmo preparada para a revolução.

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