sexta-feira, 20 de abril de 2007

É mole?

Existem muitos limites tênues e quase impossíveis de se identificar. Amor-ódio, dor-prazer, insulto-justiça. Todas as vezes em que me senti verdadeiramente possuída por um ódio descontrolado, estava em uma briga com meus pais, meus irmãos, amigos muito próximos - ou seja, pessoas por quem tenho um amor igualmente descontrolado. Todas as vezes em que me senti realmente afetada por um xingamento, ele vinha de alguém muito próximo, e portanto era um comentário justo. "Os verdadeiros insultos são justos", já dizia Bakhtin. Mas o limite mais limítrofe que conheço é o simpatia-dar mole.

Qual é a distinção entre um e outro? Os simpáticos distribuem sorrisos, fazem comentários engraçados, tornam o ambiente mais leve. Os "molengos" (não achei palavra melhor) também são campeões de sorrisinhos, de piadinhas, de gentilezas. Onde está a malícia que separa o simpático do molengo? Ok, ok, sempre tem aqueles que não disfarçam o interesse com frases infames, qual é o telefone do cachorrinho, etc. Mas esse é o mau molengo. O bom molengo se aproveita sempre do limite entre a simpatia e o dar mole. Até pq, se nada der certo, ele só foi gentil, não é?

Hoje estava passando na rua e achei que o cara do comercial do guaraná antártica estava me dando mole. Numa boa, ele estava lá no outdoor, olhando diretamente para mim, rindo para mim, falando no meu ouvido uma piadinha que não escutei muito bem, e até parou o sinal para eu atravessar a rua. O cara do comercial do guaraná é um bom molengo.

2 comentários:

aqui disse...

"tá me dando mole...", machu picchu, janeiro de 2004

aqui disse...

pelo menos foi o cara do outdoor, não foi o pedreiro na rua.

outro dia me dei conta de que estava em outro país. (tá, como se eu não soubesse.) estava eu caminhando pela rua. passei por uma construção cheia de peões. eles nem notaram minha presença. aí primeiro pensei: estou tão horrorosa que nem os peões mais falam gracinhas pra mim. depois lembrei que os peões eram alemães. e fiquei mais calma.