terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Algodões, o início

Já há tempos tenho um projeto com uma amiga muito querida. Ela é fotógrafa, eu escrevo, daí juntamos o tico, o teco e os esmaltes e resolvemos fazer uma fotonovela. Ou pelo menos chamamos assim: fotonovela. Eis que um dia, chegando do trabalho, o porteiro me entrega um pacote. Mulher solteira suspeita de tudo, mais ainda de pacotes na portaria. Pode ser um presentinho ou uma dose de antrax. E, pior, o porteiro sabe disso, porque foi logo delatando: aquela sua amiga deixou aí.

O elevador demora pouco tempo para subir até o terceiro andar. Costumo tirar batom do dente nesse intervalo, quando há. Nesse dia, entretanto, dilacerei o envelope pardo, esperando qualquer coisa, um não-objeto, livro, geleca, chapinha, tudo, menos aquilo. Um embrulho de algodão. Tive que ser cuidadosa ao abrir o invólucro, pois o algodão, delicadíssimo, exigia um minucioso balé de dedos. Imersa na tarefa de descortinar o embrulho, senti que o elevador estava subindo para outro andar.

Disfarçar o meu êxtase para o vizinho foi bem difícil. As fotos que a Gabi me mandou eram lindas. Ela havia feito uma viagem para um lugarejo da Bahia chamado Algodões, lembrou do nosso projeto, mandou ver nas fotos. Pronto. Um passo dado. Agora a bola está com você, ela parecia me dizer, tão gentil quanto concreta.

Hoje revi as imagens e mais uns vídeos que a Gabi mandou. Vou escrever contos curtos, integrados em uma lógica sequencial, para cada uma das fotos. O formato foi eleito por conta de uma porção de coisas que pensamos que podem ser feitas com esse nosso trabalho.

Me desafio a:
> escrever.
> escrever direito.
> não ficar fazendo piadinha.

Remoí umas coisas cá comigo, buscando o que essas fotos me diziam. Daí vi:

Essa é uma história de uma mulher que vive a separação, geográfica e definitiva, de um homem que ela ama. Ela está na Bahia. Ela gosta de escrever cartas.

Essa história começa daqui a pouco.

Algodão é macio, mas impede a visão.

Um comentário:

Lepz disse...

qual o problema com piadinhas?

(vou aproveitar que não tenho o que fazer e ficar cobrando isso aí)