quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Algodões, 1, mas não o primeiro




Essa é a última parte do álbum. Já escrevi para todas as doze fotos. Essa era a última. No entanto, resolvi colocar logo aqui, no início, porque tenho certeza que essa imagem vai ser a primeira coisa que você vai ver. Estou a léguas de distância da Marquês de Abrantes, mas sei muito bem que você vai pegar esse embrulho, estranhar o volume, avaliar o peso no tato, com aquela sua balança mental que compara tudo com um kilo de açúcar. Inconclusivo, vai andar até a cozinha e abrir a geladeira, que deve estar vazia. Vai reclamar que não tem comida na casa, mas que inferno, logo quando eu tenho mais fome não tem nada para comer, ímã de geladeira não é alimento, você vai resmungar em voz alta, o embrulho na mão. Sei também que vai carregar o pacote de volta para a sala, sentar no sofá, o de dois lugares, e abrir. Duvido que você tenha mudado a posição do sofá, nesse tempo que passou. Continua do lado da janela, não é? Para você poder reclamar, logo de manhã, que bate muita luz ali. Duvido também que conseguido se organizar para comprar um vegetal qualquer, ou um pacote de Doritos, e colocar nessa dispensa.

Acho que daqui a pouco terei em mãos o AR, aviso de recebimento de Sedex dos Correios. Eu postei com aviso de recebimento, paguei um pouco a mais por essa pequena segurança. Fiquei na dúvida sobre postar com AR ou não. De que me adianta saber se você vai receber? De que me adianta saber como você vai agir quando receber? Os Correios teriam um aviso de aceitação? Um aviso de encantamento? Bem, acabei aceitando o AR, essa pequena tranquilização psicológica oferecida pelos Correios. Os carteiros batem palmas quando chegam correspondências, e agora vêm entregar direto aqui, na porta da choupana. Essa de palha, no meio da floresta, que retrato na última foto, a que você vê primeiro. Eu moro aqui. Sim, eu ainda estou aqui. Em Algodões.

Deixar alguém, ou alguma coisa, é muito diferente de abandonar alguém, ou alguma coisa.
A sua rollyflex, entretanto, você não deixou, nem abandonou. Você esqueceu.

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