- eu sei qual é a maior mentira do mundo.
- sabe? eu não sei. na verdade, não sei nem o que é mentira.
- é o contrário da verdade, seu bobo, nem parece que está na segunda série.
- ah, lembrei, lembrei, acho que a maior mentira é a minha.
- duvideodó.
- então conta a sua que eu conto a minha.
- mas se eu contar a minha você pode aproveitar para inventar uma maior depois.
- então a gente conta ao mesmo tempo.
- tudo bem.
- um-dois-três-e-já!
(...)
segunda-feira, 30 de abril de 2007
in progress
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Marcadores: historietas
o contra
contra - diz-se daquele que não rema a favor
do contra = o mala
contra cheque - gente grande se gaba de ter
contratempo - todo aniversário, na hora do parabéns, meus irmãos batem palma no contratempo. mas o significado do termo vai além da partitura: contratempo é querer estar além do tempo, é negar a dimensão tempo. estou aqui, agora, porque estou lá, agora, daqui a pouco nem sei. a linearidade se estatelando no espaço. importante: não confundir com máquina do tempo, grande invenção que nos leva para o passado e o futuro. importante 2: não confundir com Leila Diniz, mulher de biquíni que estava além do seu tempo.
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21:43
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Marcadores: meu dicionário
sexta-feira, 27 de abril de 2007
o passado nos condena
O Departamento de Retrô do RJ alerta: pode haver escassez de passado
Em uma entrevista coletiva, o Secretário de Retrô, Raimundo Novaes, fez um importante comunicado sobre a iminente crise nacional de retrô. "Se os níveis de consumo retrô no Rio continuarem fora de controle, as reservas de passado poderão ser exauridas já em 2008."
Mas o secretário garantiu que providências já estão sendo tomadas. "Nós já estamos comercializando passados que nunca existiram. A prova disso é a recente introdução da linha Na cadência da roda, nostalgias dos anos 1940 e 50 inteligentemente organizadas em torno de uma casa de samba que nunca existiu, mas onde teriam tocado todos os garndes nomes do samba da época do encantadinho. É uma linha de produtos repleta de recordações originais, gravações originais em CD e peças originais."
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13:15
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Marcadores: historietas
quarta-feira, 25 de abril de 2007
O bagaço
É engraçado o cansaço físico.
A gente não quer, mas vira literalmente um bagaço.
O cérebro reclama, avisa que está inteiro, mas não tem jeito.
Uma vez embagaçada, o desembagaçamento demora
pelo menos meia hora de cochilo.
Quinze minutos para experts na desembaçaguice.
Quem em menos tempo desembagaçar,
mau desembagaçador será.
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22:27
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Marcadores: Cotidiano, o corpo fala
leminski para crianças
O BARRO
o barro
toma a forma
que você quiser
você nem sabe
estar fazendo apenas
o que o barro quer
Paulo Leminski
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22:26
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Marcadores: da boca de outros
terça-feira, 24 de abril de 2007
o nada
queria postar alguma coisa legal
mas nada me interessa
então eu vou fazer
uma rima ruim a beça
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23:02
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Marcadores: falta de inspiração
sexta-feira, 20 de abril de 2007
É mole?
Existem muitos limites tênues e quase impossíveis de se identificar. Amor-ódio, dor-prazer, insulto-justiça. Todas as vezes em que me senti verdadeiramente possuída por um ódio descontrolado, estava em uma briga com meus pais, meus irmãos, amigos muito próximos - ou seja, pessoas por quem tenho um amor igualmente descontrolado. Todas as vezes em que me senti realmente afetada por um xingamento, ele vinha de alguém muito próximo, e portanto era um comentário justo. "Os verdadeiros insultos são justos", já dizia Bakhtin. Mas o limite mais limítrofe que conheço é o simpatia-dar mole.
Qual é a distinção entre um e outro? Os simpáticos distribuem sorrisos, fazem comentários engraçados, tornam o ambiente mais leve. Os "molengos" (não achei palavra melhor) também são campeões de sorrisinhos, de piadinhas, de gentilezas. Onde está a malícia que separa o simpático do molengo? Ok, ok, sempre tem aqueles que não disfarçam o interesse com frases infames, qual é o telefone do cachorrinho, etc. Mas esse é o mau molengo. O bom molengo se aproveita sempre do limite entre a simpatia e o dar mole. Até pq, se nada der certo, ele só foi gentil, não é?
Hoje estava passando na rua e achei que o cara do comercial do guaraná antártica estava me dando mole. Numa boa, ele estava lá no outdoor, olhando diretamente para mim, rindo para mim, falando no meu ouvido uma piadinha que não escutei muito bem, e até parou o sinal para eu atravessar a rua. O cara do comercial do guaraná é um bom molengo.
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11:34
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Marcadores: cidade
quarta-feira, 18 de abril de 2007
Minha avó Juçara Anna
Eu tenho uma avó que se chama Juçara Anna.
Ela esteve aqui em casa esse fim-de-semana.
Vovó não usava calça comprida quando era jovem. Só no carnaval. Vó, mas a senhora ia fantasiada de homem? Não sei, mas sei que só podia usar calça no carnaval.
Vovó me contou que no tempo dela era muito difícil controlar a gravidez. Era só dar mole e, pumba, tava de barriga. Minha avó não conheceu a pílula, só o diafragma. E mesmo assim, me disse ela, só depois de muito tempo. Ria-se toda, a minha avó.
Vovó me contou que ganhou muitas calcinhas no natal. Ê povo para achar que preciso de calcinha. Mas não adianta, ela não gosta de calcinha de tecido sintético, só de algodão. E essas muito baixas, nem pensar. Não me sinto confortável, sabe? Não sei quem inventou que essas calcinhas são boas. E olha que elas são caras. Na verdade, só uso calcinha assim em dia de festa.
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23:23
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Marcadores: egotrip
terça-feira, 17 de abril de 2007
eu e eles
- Mamãe!
- Que é, Pluft...
- Gente existe?
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20:33
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Marcadores: egotrip
segunda-feira, 16 de abril de 2007
meu dicionário
silvo - o namorado do Silva. aquele lá da repartição. recém-casados.
silvo breve - rápida aparição do namorado do silva na repartição. normalmente às quintas.
silvo longo - ao telefone, ele fala pra dedéu. ou quando está alegrinho.
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20:40
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Marcadores: meu dicionário
Quero ser uma lagartixa
se me cortarem as partes do corpo,
as únicas coisas que crescem de novo são
fígado, cabelo e unha.
se cortarem as partes de do corpo de uma lagartixa,
tudo regenera.
não quero ser um fígado cabeludo,
quero ser uma lagartixa.
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Clara
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20:30
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Marcadores: o corpo fala
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Assim não fica bem
Algumas coisas pegam mal.
Exemplo: não dar bom-dia pro cobrador do ônibus.
Outras coisas pegam muito mal.
Exemplo: Keith Richards dando LSD pro cachorro.
Certas coisas são imbatíveis.
Exemplo: Keith Richards cheirando as cinzas do pai, misturadas com cocaína.
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13:20
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Marcadores: não fica bem
quarta-feira, 11 de abril de 2007
Evita Perón
Ex-atriz medíocre, ex-prostituta, ao fim da vida Evita foi considerada santa na Argentina. A massa a venerava. Rezavam loucamente por sua saúde, batiam records por ela, jejuavam por ela.
Quando Evita morreu, embalsamaram a moça. Ainda faltavam dois meses para o falecimento quando o próprio Perón contratou um embalsamador. O melhor embalsamador do mundo. Como ele era profissa pra dedéu e queria fazer o melhor trabalho possível, começou a observar Evita viva, como as veias ficavam, a cor da pele dela, seu porte. Evita embalsamada ficou uma obra de arte, dizem os que viram.
Além da versão no formol, o general decidiu fazer três estátuas de cêra. Caraca. E não é que ficaram perfeitas? Evita lendo, Evita discursando, Evita em paz. Elas olhavam para baixo, porque os caras que fazem estátuas de cêra dizem que a única qualidade humana impossível de ser reproduzida pela arte é o olhar.
E o pior é que, depois daquele filme, eu só consigo imaginar a Evita com a cara da Madonna, cantando em inglês. Don´t cry for me Argentina.
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17:31
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terça-feira, 10 de abril de 2007
palavras que não entendo
Dodói - dói duas vezes e parece menor que dor de gente grande.
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21:55
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Marcadores: coisas que não entendo
segunda-feira, 9 de abril de 2007
Nos muros
Ficar emburrado é um saco. Pior ainda quando é assim sem mais nem menos. Se alguém te dá bom-dia, você quer matar, se não te dá, você quer esfolar, se conta uma piada, quer esganar, se reclama do aquecimento global, manda à forca. Para não ficar emburrada e ainda passar o mau-humor para os outros, desenvolvi uma estratégia já há muito conhecida: olhar pra as paredes. Pintou o mau-humor, pronto, é só contemplar as paredes. Hoje eu estava assim: comtempladora de paredes. Mas, como é sguenda-feira, tive que sair de casa. Saco. Ainda bem que existem muros para olhar nas ruas.
Os muros de Botafogo são imperativos. Gritam, esbravejam. Por pouco não te expulsam do bairro: vai, minha filha, por ali, pega aquele ônibus. Botafogo é o paraíso dos anti-carne. Só ali pela praia, vi três vezes um carimbo "seja vegetariano". Detalhe: em vermelho sangue. Tentando escapar do vegetarianismo, pois encarei um churrasco no domingão, olhei para a parte de cima dos muros. "Halloween é o cacete, viva a cultura nacional". Peraí, também não precisa ser tão agressivo. Deixa o povo se divertir, pô. Vai bolar uma campanha de marketing para São Cosme e Damião e pára de reclamar. Ainda lá no alto, na sequência: "self-service é o cacete, viva a cultura nacional". Numa boa, sei que estou de mau-humor, mas 'restaurante de auto-serviço' soa um pouco estranho, né? Fiquei imaginando a cultura nacional, segundo as instruções daquele muro: crianças com sacolinhas de São Cosme e Damião comendo num restaurante à la carte.
No Jardim Botânico, vi uma Hello Kitty num muro. Oba, as coisas vão melhorar por aqui. Lá estava a Hello Kitty, assim meio agachadinha. E a frase que acompanhava: "Hello Kitty de cú é r
rôla". Numa boa, por quê? Tanta coisa pode ser isso, colocaram justo a Hello Kitty? A boneca que fala pelo coração! Me desculpe, mas ela não é rôla, não.
Resolvi que seria melhor olhar pro chão.
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19:00
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quinta-feira, 5 de abril de 2007
Mandíbula html
- Olha, menina, pelo que estou vendo aqui vou ter que desprogramar a sua mandíbula.
Nunca pensei que fosse ouvir isso na minha vida. Muito menos de uma estranha, cinco minutos depois de conhecê-la. Hã? Fazer o que com a minha mandíbula? Faz com a sua, pô. Não sabia nem que tinha mandíbula direito, muito menos que ela poderia ser desprogramada.
- Quantos anos vc tem? Hum. Jovenzinha. Mas, se vc não desprogramar a sua mandíbula hoje, aos quarenta pode conhecer o infermo.
Pe-peraí. Tudo bem que posso ser novinha e sem noção da idade da loba. Mas acho que, aos quarenta, existem problemas maiores do que lamentar a não-desprogramação mandibular aos vinte. Isso é mentira. Olha que te pego na esquina.
- Você pode sentir areia no ouvido, espetada na coluna, e muita dor de cabeça. Aliás, vc não tem dor de cabeça, não? Incrível. Devia ter. Mas o pior mesmo é o zumbido no ouvido, que é irreversível. Seu caso é catastrófico. Olha isso aqui, olha essa estalada, está arrebentando com o seu menisco! Vem ver, fulana!
Vem cá, e se eu quiser a experiência estética de ouvir zumbido o dia todo? Tem gente que escuta a Ivete o dia todo, eu vou escutar o meu zumbido, autoria própria. E esse negócio do menisco é dose. Achava que menisco era uma parte do joelho. Aquela que atrapalhou a vida do Ronaldinho. Boca e menisco para mim não combinam. Parece que eu mordi o joelho de alguém e o menisco foi parar na minha boca.
- Então, menina, é isso aí. Vc vai ter que desprogramar a sua mandíbula. Funciona assim: vc usa uma plaquinha nos dentes, ela desordena a maneira como a sua mandíbula está funcionando, daí depois vc percebe o que estava errado na programação, e podemos reordenar o funcionamento da sua mandíbula da maneira correta. Quantos anos vc tem mesmo? Então. É agora ou nunca.
Fiquei imaginando o código html da minha mandíbula. Aspas, caninos, números, molares, acentos, uma confusão de sintaxe. A informática invadiu todos os campos da minha vida. Os mais secretos. Agora tenho html na boca. Imagina o que não tem no resto do corpo.
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12:59
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segunda-feira, 2 de abril de 2007
Passe-livre
Os políticos tiraram o passe-livre dos estudantes. Tirar o passe-livre é uma coisa que começa com o Riocard. Depois, vai parar no reino do indizível.
Tudo começa naquela cartela de plástico laranja-horrenda com uma foto péssima do andarilho. Mas o tal Riocard é mais que uma carteira, é um passaporte para o mundo da estupefação. O estudante secundarista que marca um cinema com a gata mais gata da escola, se arruma todo e estufa o peito antes de saltar do ônibus, usa o Riocard; o bobo da quinta série que joga futebol toda quarta com os primos, num campo deserto onde também se descobrem outros segredos da vida, usa o Riocard; o galhofeiro da oitava que pinta o cabelo de abóbora e vai pra praia de 484 no domingo, com metade do corpo para fora da janela, cantarolando os proibidões, esse também usa o Riocard. Tudo bem, todos eles, em algum momento, vão utlilizar aquele plástico para botar uma camisetinha assim assim e ir à escola. Quem sabe até lerão um livro na biblioteca. Quem sabe visitarão um museu, para saber um pouco mais sobre o barroco mineiro. Mas isso é o de menos. O que importa é que o Riocard leva ao indizível.
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Clara
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18:44
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