domingo, 17 de abril de 2011

Como todas as pessoas que, de algum modo, vivem de ter ideias, eu tenho um caderninho. Depois de tentar dividir as seções por temas, por trabalhos, por situações amorosas e o escambau, percebi que, para uma pessoa completamente desordenada como eu, o melhor seria separar o caderninho por datas. Assim que pus meus pés na capital argentina, abri uma parte. Dobrei uma pontinha de uma folha - veja como é fácil abrir um espaço na vida - e escrevi, em garrafais vogais: Buenos Aires.

Aqui estou.

Meu método de caderninho funciona assim: anotar o que passa na cabeça. Anotar uma palavra. Anotar algo ouvido. Anotar uma besteira pra completar depois. Anotar. Minha parte Buenos Aires começa com um punhado de sensações físicas da cidade: a arquitetura, as ruas, tudo muito diferente do meu porto natal. Depois, caminho por frases que escutei, li, inventei. Mais recentemente, pensatas sobre o que é ser e querer ser um estrangeiro.

Algumas delas. Sou estrangeira porque:
- Não sou nativa da língua. Mesmo que me comunique bem, me delato em uma frase.
- Deixei de ir a uma festa porque cheguei no lugar e não entendi que aquilo podia ser uma festa.
- Tenho que me apropriar dos lugares, torná-los meus. A calle Ayacucho é minha. O bilheteiro do metrô é meu amigo.
- Porque eu vejo diferenças o tempo todo. Mesmo que não queira.
- Porque tenho um espanto por dia, mesmo que pequeno. Se não tiver eu forjo.
- Porque adoro me espantar com as coisas.
- Porque vim aqui pra me espantar.
- Porque estou sempre fora.

2 comentários:

Nadja G. disse...

Você já se espantou com as garrafas ou galões de água em cima de alguns carros? Sabe o que isso significa? Eu demorei anos pra descobrir! hahaha

Beijos

Luiza M. disse...

Vim para o Rio há um ano e, só depois de escolher uma tarde inteira de domingo na cama comendo biscoito, digo: moro no Rio.