A orquestra estava em silêncio. Todos tinham afinado os seus instrumentos. Músicos e musicistas de preto: os homens de fraque, as mulheres em lindos longos com detalhes brilhantes, eram cerca de cem os que aguardavam a chegada do maestro.
O maestro estava nervoso, mas pisou firme no palco quando entrou. Se acreditasse em astrologia, diria que estava em seu inferno astral; mas achava tudo isso uma baboseira. O teatro cheio, a batuta na mão, os mais de cem músicos, ele era o maestro, era poderoso de novo.
Ergueu a batuta. Firme. A primeira nota, do cello à sua esquerda, estava por vir. Não veio. Não veio o violino, não veio a clarineta. A primeira cadeira rangeu o chão. Era um violoncelista, que deixava o palco. E assim, em uma sequência de dominó, um por um, todos os músicos da orquestra deixaram o palco. Cadeiras tocaram o seu arrastar; sapatos tocaram pisadas fugazes; um ou outro murmúrio; saltos quicando; portas de coxias fechadas.
O maestro sozinho, a batuta em riste, para uma orquestra que se foi.
*
(Ontem minha mãe me narrou mais ou menos essa cena, que aconteceu em um concerto ao qual ela tentou ir. A cena ficou martelando na minha cabeça até agora. Adorei a idéia da orquestra dispensando o maestro. Escrevi pra tentar me livrar da cena. A ver se consigo. Se não der certo, como uma empanada.)
quinta-feira, 28 de abril de 2011
o maestro
Postado por Clara às 12:59
Marcadores: Buenos Aires, historietas
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Um comentário:
Agora você pode ver como foi:
http://www.youtube.com/watch?v=acBJ5bHSCh0
Beijim.
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