Cumpre informar que o Uruguay é a república com o litoral mais sem caixote do cone sul.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Aqui nessa cidade existem fiambrerias, lojas que vendem queijos, presuntos e afins. Coisa rara no Rio, em que os mercados há tempos reúnem o que antes se dissipava em pequenos açougues de bairro, delis, armazéns.
Ontem, eu estava na vitrine de uma fiambreria, exposta junto com nacos de carne, pedaços de queijos, umas linguiças.
Um cliente se aproximou. O vendedor, no balcão, colocou ordem na fila e atendeu o sujeito - que bem podia ser uma mulher, não lembro bem, não havia ângulo para ver e o barulho dentro da vitrine é grande. Eu estava ali, quieta, no meu papel de Clara-presunto, as pernas nuas, os pés descalços. O vendedor ligou a máquina de corte e abriu a porta da vitrine.
Eu não sabia o que o cliente havia pedido.
Então acordei.
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Clara
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19:35
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Marcadores: Buenos Aires, egotrip
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
É proibido nos esquecer, dizem as faixas.
Gosto de ver a concentração para piquetes no metrô. Sob a terra, são só homens comuns que portam bandeirinhas. Em frente à casa rosada, se transformam em militantes com passado, insatisfações e desejos. Destemor.
Aqui eles aprenderam que cinco homens são capazes de fechar uma rua. Mesmo quando não é carnaval.
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Clara
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18:56
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Marcadores: Buenos Aires
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Diferenças
Golpeie a porta e será atendido.
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Clara
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13:53
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Marcadores: Buenos Aires
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
The End
São Paulo, nunca vi acabar.
O Rio, mais ou menos.
Mas Buenos Aires tem fim.
Senta de frente pro rio e olha: ali do outro lado já não é mais Buenos Aires.
Bate um alívio ter final. Todas as cidades deveriam ter final assim.
Sobem créditos.
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Clara
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21:50
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Marcadores: Buenos Aires
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Descarrilhar
Hai Kais ruins e irresponsáveis, porque o negócio é descarrilhar.
Parillada
Céus, como é divertido
ter um garçon
como amigo
*
Paixão nipônica
Por mais que te ame
sua cama
é de tatame
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Clara
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20:53
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Marcadores: Buenos Aires
Ruídos
Um trem passa. Um homem grisalho, que está em uma rua sob o trilho do trem, protege os ouvidos ao escutar o estrondo e grita: meu deus! Essa é a primeira cena de O último tango em Paris. E é mais ou menos o que tenho vivido por aqui. Só que não tapo os ouvidos.
Estou especialmente sensível a barulhos, ruídos, sons. Tudo me desperta a atenção. É uma sensibilidade extra, que jamais tive. Quando era criança, passava na TV a propaganda do Sonic 2000, um aparelho auditivo. Aparecia uma velha decrépita, colocava o aparelho e falava: com Sonic 2000, posso escutar o barulho de uma agulha caindo do outro lado da sala! Eu estou assim.
Vou fazer uma lista dos principais barulhos que escuto aqui:
- talher batendo
- porta de casa no vai e vem
- vizinha mexendo no varal
- carros hesitantes entre dar a largada ou não
- homem da dedetização aplicando o fumigador
- cravinho explodindo
- bip
- de donde sois?
- bip
- x (x é quase um trem)
- calor (sim, calor faz barulho)
- risadinhas baixas (não ouvi nenhuma alta)
- unha do pé crescendo
- pro no tienes accento brasileño
- bip
- protesta!
- contra el govierno!
- caminhão de lixo
- tango ao fundo
- bip
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Clara
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11:10
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Marcadores: Buenos Aires, Cotidiano