sexta-feira, 19 de março de 2010

ready made

Se as palavras se tornam interessantes, ei-la, a literatura. Palavra que não emociona não interessa. Simples assim. Lição de escola de letras? Não, de pedinte carioca.

Já recebi várias vezes, em ônibus, na rua, um papelzinho assim:

Sou surdo e mudo. Não tenho trabalho. Qualquer trocado ajuda. Deus lhe pague.

Eis que ontem, nos Correios da Praia de Botafogo, um homem limpo e bem vestido me entrega em um A4:

Sou mudo. Meu tio alcoolizado me cortou metade da língua com uma faca afiada quando eu era criança. Eu escuto, mas não consigo falar. Por favor me dê dinheiro. Quero comprar uma carrocinha para trabalhar como pipoqueiro.

Incomparável. Há conflito, objetivo, história, detalhes na medida. Um homem sem língua que sonha ser pipoqueiro.

E também há muita miséria humana.

Um comentário:

fmaatz disse...

a maravilha é que se isso for mentira é melhor do que se for verdade.
o milagre é que quem lê nem precisa saber disso.
né não?
bjs.
f.