terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Você percebe que envelheceu quando, entre uma rabanada e um bacalhau,
seu priminho te apresenta Luciana, a fuckfriend.
(e você finge naturalidade).

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Uma maneira terna, delicada e poética de desejar as coisas mais felizes sem usar palavras catadas em árvores. Fiquei buscando, mas a queridíssima Laura mandou um email de fim de ano imbatível. nada supera as tartarugas do Cortázar.

Tartarugas e Cronópios

Agora acontece que as tartarugas são grandes admiradoras da velocidade, como é natural.
As esperanças sabem disso e não ligam.
As famas sabem e caçoam.
Os cronópios sabem e cada vez que encontram uma tartaruga, puxam a caixa de giz e na lousa redonda da tartaruga desenham uma andorinha.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Minha família fecha o ano comemorando mais uma vez muitos títulos e prêmios recebidos.

Minha priminha ganhou o nobre título de maior bebê já nascido no hospital, sobre o qual não tenho muito o que comentar.

Minha irmã ganhou o prêmio de segundo lugar no vestido mais curto do baile de formatura. ela alega que houve injustiças, uma vez que a primeira colocada tinha as pernas maiores, não trajes menores. O caso trouxe turbulência ao júri, que não soube arbitrar com eficiência sobre a relação perna/vestido.

Meu primo recebeu o prêmio de melhor bailarino da dança do quadrado no pré-carnaval de Diamantina. Sua performance foi aplaudida de pé pelos jurados. Meu primo não só fez os tradicionais "Matrix e patinete no seu quadrado", como inventou um passo próprio, que em sua homenagem foi batizado como "Bibiel Saracuru-Pirado no seu quadrado", nome que ele está tentando explicar até agora.


O residencial do Alto Botafogo está em festa. 2009 promete ser um ano de muitas outras realizações para essa nobre família. Sinto-me honrada em pertencer a tão nobre estirpe.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

TOC

Alguns de meus autores prediletos dizem que devemos escrever sobre o que vemos.

Um prendedor de cabelo laranja, um marrom, os dois jogados no pé de um cavalete de pintura, que serve de apoio um recorte de jornal e dois convites de casamento, não sei porque esse cavalete continua aqui, eu nunca pintei, devia doar pra uma ONG, quem sabe assim me redimia dos meus pecados, um teclado ergonômico quebrado, uma caixa de pílula, um bilhete para eu não esquecer uma odiosa confraternização de fim de ano, um Borges, uma Colasanti, um livro teórico cheio de adesivinhos anti-rabisco, eu ainda prefiro riscar as páginas, uma caixa de ob, um saco de absorventes noturnos, quem deixou essas fraldas aqui?, eu jamais compraria um absorvente desses, uma xícara de café pela metade, uma folha de texto meu com correções e borrões de café, um copo de suco de amora, um coador, uns CDs de rock empilhados, um brinco sem par, uma tabela de conjugação de verbos em alemão, umas formigas passeando, já não passei inseticida aqui?, de repente essa é uma nova espécie, um porta-canetas, uma web cam desconectada.


Invejo, como invejo, as pessoas que têm TOC de arrumação.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Por favor, comentem esse post, que acaba assim que eu colocar o ponto final.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Um homem-estátua por esquina no Largo do Machado:
dezembro está perto do fim.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O tapa

- É, eu sei.

A verdade é que eu estava sem saco para explicar direito. Dizer que eu praticava arte marcial, que vivia cheia de hematomas, que ela não se preocupasse, que não machucava muito não, que a perna e no braço estavam sempre roxos, eu só queria que ela me depilasse rápido, embora estivesse aproveitando o ar-condicionado.

Ela puxava a cêra delicadamente, mas ainda assim doía. Fechei os olhos para ver se distraía a dor com alguma besteira de pensamento, isso funciona muito, serve pra qualquer coisa. Levei um susto quando escutei aquele sussuro no meu ouvido:

- Eu também gosto de fazer apanhando.

- Hã?

- Olha só.

Me mostrou a nuca e o antebraço, marcas de roxo esparramado. Pensei em revelar que só gosto de luta no do-jo, mas o caminho não parecia ter volta.

- Foi meu marido que veio com essa idéia. No começo eu não acreditava que não doía. Mas agora eu nem sinto nada. Parece carinho, né?

Puxou a cêra com mais força. Tive um impulso de berrar, mas segurei, saiu só um grunhido, na verdade abafado pela mulher da cabine ao lado, que berrava sem parar. A depiladora não percebeu. Ainda bem. Não podia me mostrar fraca, ainda mais com uma cêrazinha à toa.

- E você bate no seu marido também?

Silêncio. Peraí, vai dizer que ficou ofendida com a pergunta? Eu estou aqui, sendo depilada, entregue ao nada, agora responde, po.

- Estou começando a bater agora.

Ela pareceu lembrar de como batia bem e caprichou na puxada. Recolhi todos os urros que quis dar para o útero, não saiu nenhum. Eu não sou seu marido. Pára de bater em mim. Olha que eu revido.

- E você sabe que gosto? Ele fica submisso. Aceita. Acho que é bom pra ele também. Só tem que não posso dar na cara, senão o pessoal do trabalho dele repara. Dou no braço, na barriga. Comprei umas blusas novas pro Tomás, de manga comprida.

Tomás. Nome de santo.

- O que eu não gosto mesmo é arranhão. Nem soco.

- Golpe de mão aberta espalha mais a força, dói menos. Dá tapa. Soco é mais concentrado.

Juro que não queria dar pitaco. Só queria escutar a mulher. Mas já tinha falado.

- Tapa assim?

- Não, flexiona um pouco os dedos. O polegar fica junto. Agora arqueia. Isso. Se quiser usar o golpe na vertical, tem que fazer assim, ó. E na garganta é assim. Só não pressiona demais, porque isso sufoca rápido.

Ela ficou treinando na minha frente, enquanto procurava a pinça. Uns tapas sem forma, sem força, sem integração com o resto do corpo. Tapa bem dado não é assim, minha querida, presta atenção, tem que vir mais de longe, conserta essa posição, senão não faz efeito, isso aqui não é nada, nem merece o nome de tapa, tive vontade de corrigir, foi então que não sei porque, mas não sei como mesmo, eu levantei e dei um puta tapa nela. Esborrachado, no meio da cara.

*
(continua no meu word... não consigo escrever/publicar coisas maiores aqui nesse editor!)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Miau.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Scrr! Scrr!

eu ia fazer um pst sbre um aparelh muit nteressante que cmprei para cçar as cstas.
mas a letra nã está funcinand e eu desisti.
just essa semana que cnseghui alguns nvs leitres para as velhas. atençã nã é velhas! leiam direit: velhas. velhas.
pensei em seguir cnselh de um amig e usar 0. mas cçadr de cstas ia virar c0çad0r de c0stas, que me pareceu h0rr0r0s0.
aliás, hrrrs é a melhr palavra para se escrever sem a letra .

*
entã vu fazer um manifest sbre certs cmentáris que recebi:
esse nã é um blg nn sense. é uma página séria e infrmativa. eu nã public mentiras nem cnteúd ficcinal. tud aqui é verdadeir. tud. até gstaria de inventar alguma cisa, mas nã tenh talent.

abaix nn sense!

*
quer escrever uma frase inteira sem a letra . vu tentar:
em frente a casa de bia havia um creme de barbear.
supracitada dentista desenha bebês.
perfume de alfazema avec chantilly.

*
querids nvs leitres, nã se assustem. a letra prmeteu vltar em breve.
enquant ss vams ns dvertr cm utras banaldades.
ah! cadê a letra ? cadê? assm fca mpssvel!
scrr! scrr!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sonham os andróides com ovelhas elétricas?

Sonham os andróides com ovelhas elétricas?

Esse é o título do livro de Philip Kindred Dick que inspirou Ridley Scott a fazer o famosíssimo filme Blade Runner.

Me dei conta de que não há nenhuma ovelha elétrica nesse blog. A Amélia é ovelha humana, a Helga só tem um rim de urânio.

Vou ter que inventar uma ovelha elétrica, para o bem dos andróides.
Porque, na minha modesta opinião, os andróides sonham diariamente, incondicionamente e prazerosamente com elas, as ovelhas elétricas.

(Pelo menos eu sonho. E olha que me tornei andróide há pouco tempo.)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

a parte

o olho é um pedacinho do cérebro que rompe a pele.

ela olhou bem no meu olho, com aquele pedacinho de cérebro azul, e disse: sai.
eu nunca mais acreditei em pedaços de cérebro azuis.

domingo, 30 de novembro de 2008

Anã envenenada maçã

Deu no jornal:
Novos dados do IBGE dizem que população brasileira encolhe e envelhece

Li a notícia com lamento.
A informação é confiável: em breve nos tornaremos anões velhos. E mal-humorados, adiciono sem temor, embora o IBGE não tenha colhido informações sobre isso (o treinamento técnico para detectar mal-humor é caro e sofisticado). Seremos anões corcundas, de barba grisalha, que resmungam seus lamentos sempre repetindo a última palavra. Fulano está me enchendo o saco, saco. Beltrano se acha o tal só porque tem um centímetro a mais, mais. A população brasileira, encolhida e envelhecida, terá ainda mais medo dos gigantes das lendas dinamarquesas.

Como brasileira e futura anã velha, vou logo avisando que jamais aceitarei ser cooptada pela Branca de Neve. Prefiro ser anã da bruxa. Ou ser a maçã. Sempre quis ser a maçã envenenada. O IBGE infelizmente ainda não anunciou que nos tornaremos maçãs - embora as chances sejam bem altas.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O bocejo

O bocejo

O bocejo é o entreabrir da boca que denota sono.
Quer dizer, quando o bocejo nasceu , a ele comunicaram que só deveria se manifestar quando o sujeito sentisse sono. Mas hoje em dia, coitado, aparece em qualquer situação, menos quando a pessoa está com sono. Olavo bocejou em uam rave, no meio da multidão, u-rrú!, todos de bracinhos para cima, balançando a cabeça, tu-ti-tu-ti. Já Tânia bocejou bem no instante em que o professor chegava ao ápice de sua explicação sobre o sujeito pós-moderno. E Rita, imagina só, não só bocejou como caprichou no suspiro ao escutar do namorado a explicação sobre a viagem de fim de ano.

O bocejo está preocupado mesmo é com o seu contágio, que anda rápido demais. Ele bem sabia que quando aparecesse chamaria imediatamente uma porção de seres como ele. Só não sabia que a velocidade seria essa. Outro dia mesmo, no cinema, o bocejo se surpreendeu ao ver a quantidade de irmãos que encontrou em uma mesma cena. Era um desfile: um maior que o outro. E também se preocupou com o contágio rápido nas plenárias do planalto, nos escritórios e até mesmo nos inferninhos, em que supostamente o contágio de bocejos seria o menos preocupante.

O bocejo está pensando em tirar férias. Glória ficou preocupada, pois não consegue viver sem bocejar.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Notas de rodapé

Adoro escrever notas de rodapé. Mais que o texto principal, mais que os títulos e subtítulos, me divertem e me encantam as notas de rodapé. Que há de mais importante, meu deus, em qualquer texto, do que aquilo que poderia ser suprimido e não foi? A nota de rodapé é isso: eu poderia não te contar esse detalhe, mas acho que vale a pena. Force sua vista, troque o óculos, você vai gostar de ler esse tiquinho de informação que eu coloquei aqui. É um segredo.

A nota de rodapé não é como um PS, por exemplo, que comumente é usado para fazer piadinhas. Como se depois do "beijos, fulano" acabasse o espaço da seriedade e finalmente no PS fosse aberto espaço para os gracejos. Nada disso. O rodapé traz um charme especial que só possuem as coisas marginalizadas, esquecidas e ao mesmo tempo imprescindíveis.

Quando clico em "inserir-nota", meu cérebro entra na deliciosa configuração do sussurro. Atenção, leitor, encoste seu ouvido aqui bem pertinho desse rodapé, vou te contar uma coisa que só você pode ouvir e que vai fazer toda a diferença.

Estou pensando, por que não, em trocar as bolas e escrever tudo em notas de rodapé. O texto principal fica ali, na margem das notas.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

às vezes tenho quase certeza,
mas quase certeza mesmo,
de que não sou uma salsicha.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

anti-post espanta leitor

A ovelha está se escondendo atrás do título.
(sai daí, Amélia!)
Ela não quer me obedecer.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Houve uma época em que vivia cercada por poesias. Copiava poesias em letras bolhudas, dobrava o papelzinho e colocava na carteira, na pasta do colégio, no estojo dos óculos. Abria o livro de química e, uau!, alguns segundos de João Cabral no meio da manhã. Ia comprar Chicabon e me deparava com Plath na carteira. Isso sem contar com Pessoa, que me pegava desprevenida enquanto enquanto comia um joelho no chinês, e com Prevert, que apareceu bem quando me insinuava para aquele menino do colégio que nunca me deu bola (tudo bem, ele era da oitava série e eu da sétima, meninos da oitava são muito maduros).
Um belo dia, enchi da brincadeira. Achei bobo demais eu mesma provocar minha pequenas diversões ao longo do dia. Cresce, garota. Um, dois e três. Nunca mais futuquei a bolsa e achei poesia em vez de cartão de crédito.

Dia desses estava procurando um texto acadêmico que tinha que ler pro dia seguinte. No meio da pilha monstra de cópias aterrorizantes que acumulam pensamentos sufocantes, encontrei um papel. Era pequeno e estava dobrado em quatro. "Felicidade se acha é em horinhas de descuido", ele me dizia. O verso, bem se sabe, é de Guimarães Rosa. Mas não a letra, que remoí bastante e constatei que não era minha, nem aos sete, nem aos oito, nem aos dezoito anos. E possivelmente não será aos sessenta.

Acho que já sei quem foi.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

conchinha

"Não gosto de dormir de conchinha".
M., pouco antes de pedir aipim frito.

"Eu também não, espero meu namorado dormir e saio da concha."
F., tentando desentupir o saleiro.

"Se ele se mexer do outro lado da cama eu já acordo. Conchinha, então, nem pensar."
G. Y., tentando não se irritar ao tirar sal da orelha.

"Ô."
J., dando mais um gole.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Queria fazer um texto maravilhoso sobre o processo de criação. Especificamente, sobre como algumas pessoas pensam em palavras e outras em imagens e como se pode subverter o que for mais intuitivo através de técnicas. Daí me deu preguiça e eu não escrevi nada.

Ultimamente duas coisas me tomam o pensamento:
a palavra assaz
e a imagem de uma porta-bandeira ateando fogo às próprias roupas (imagem muito bonita, aliás).
Assaz, fogo, assaz, porta-bandeira.
Nada disso tem relação direta com o que deveria ocupar meus pensamentos. Sim, eu sei o que deveria ocupar meus pensamentos.

Vez por outra eu ainda me pergunto por que estou pensando em assaz em vez de pensar as coisas que deveria pensar. Mas aí essa idéia me foge e lá estou eu de novo com a porta-bandeira, que quase já tem nome.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Não há pombos nos arredores da Paulista.

Estou abstinente: preciso chutar um.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Em São Paulo,
ninguém parece ter medo de ser engolido por uma escada rolante.

Estranho.

Dicionário dos carinhos mais preciosos

Formiguinha nas costas - essa modalidade de carinho foi criada nos anos 1850 e consiste em simular formigas com as pontas dos dedos, fazendo com que elas passeiem nas costas do acarinhado. Dica: não passar de 150 formiguinhas, para não provocar pânico.

Massagem no pé - velha conhecida no mundo oriental, a massagem no pé era utilizada nos primórdios para desfazer problemas de saúde, como tumores no cérebro e gastrites. Agora passou a ser utilizada para adormecimentos e também para fins eróticos. Dica: cuidado com unhas encravadas.

Belisquinhos na orelha - carinho ambíguo e criado recentemente, provavelmente em 1912 (ainda há divergência entre os antropólogos). Consiste em apertinhos pontuais e em intervalos precisos aplicados na orelha. Dica: tire os brincos e piercings antes. Metais não sentem muito bem o carinho.

Cafuné - o mais simples e mais fundamental doa acarinhamentos, e também o que tem o nome mais bonito de se pronunciar. Para ser executado demanda apenas dedos e cabelo. Dica: proibido contar o tempo, cafuné é o único ser vivo que não conhece relógio. E, sim, carecas também são válidas.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Não me importam os boletins meterológicos, os estudos astronômicos, as leis universais do clima.
Não me importam as novas técnicas da galera do posto nove para despistar a polícia, as misturas de açaí para os que querem ganhar músculos, os charmosos biquínis das meninas de Ipanema.
A senhorinha lá da casa treze colocou a placa na porta: Vendo sacolé da fruta do pé.
Agora, sim, o verão chegou.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Além do incrível preconceito com a calcinha bege, um assunto que ronda certas rodinhas de mulheres é a falta de tempo para se apaixonar.
"Até queria me apaixonar, mas ando tão sem tempo, sabe?", dizem umas e outras por aí. As amigas costumam concordar com a cabeça, não sem largar um suspiro tremidinho.
Paixão demanda tempo? Então faça um teste: largue o curso de francês, livre-se das aula de yoga, faça um curso de leitura dinâmica, passe a realizar compras de supermercado pela internet e com entrega em casa e leia romances com no máximo cem páginas. Agora aguarde uma ou duas semanas. E aí, se apaixonou?
Ninguém nunca deixou de se apaixonar por falta de tempo. O tempo da paixão não se conta em minutos, nem em segundos (talvez em milisegundos, a pensar). A paixão mora escondida. Senão não é paixão, ora.

sábado, 18 de outubro de 2008

quem vem lá?
que horas são?
isso não são horas
que horas são?

domingo, 12 de outubro de 2008

Sobre rímel e arte marcial

É preciso uma certa teimosia para ser karateca, principalmente karateca-mulher. Primeiro, temos que assumir a vontade de enfiar a porrada em todo mundo, o que choca muita gente. As pessoas não costumam entender que a vontade de bater é algo que convive muito bem com o gosto por batons e perfumes marcantes, só não costuma combinar com a afinidade por literatura cor-de-rosa. Além disso, é preciso uma certa teimosia com a aprendizagem da própria técnica, porque subitamente ficamos sabendo que temos dois braços e duas pernas e que - incrível! - os movimentos entre eles podem ser combinados e até controlados pelo cérebro. Hoje em dia eu dou graças por não ter nascido polvo.

Os chutes circulares são os mais difíceis. Se chamam Yoko Geri Keage (chute lateral ascendente) e Yoko Geri Kekomi (chute lateral em penetração). No Keage chutamos o rosto ou o peito do adversário, partindo em seguida para uma seqüência de pancadas, como por exemplo a quebra da clavícula, que aprendi dia desses com muito entusiasmo. Já no chute Kekomi o objetivo é penetrar o quadril do oponente, arrasando com tudo o que possa existir naquela região. A questão é que é necessário um controle absurdo da perna para isso: temos que ter força, precisão, tentar não estropiar o joelho, não cair, gritar para liberar a energia na hora certa e ainda sorrir delicada e sarcasticamente para o adversário (descobri há pouco: o sorrisinho é uma arma letal a ser combinada com os chutes).

Quanto mais difícil fica, mais eu me empenho. Adquiri alguns manuais e tenho treinado movimentos nos pontos de ônibus e nas filas para comprar ingresso pro festival de cinema. Acho que para completar só me falta comprar um rímel à prova d´água, pois tenho suado muito nas aulas de karatê.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Me rendi. Já não tenho mais nojo de comer formigas.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Relato da primeira e extraordinária reunião para decidir como acabar com Copacabana. Estiveram presentes os membros da família a alguns agregados.

Sugestão da mãe:
pedir para todos os moradores saírem de casa ao mesmo tempo e provocar uma guerra.

Sugestão do tio:
fazer uma promoção para que todos os moradores dêem descarga ao mesmo tempo. Algo como "dê descarga no domingo às 20h e concorra a um carro". As descargas simultâneas acabariam com Copacabana.

Sugestão do irmão do meio mais velho:
construir uma bomba aquática e provocar um tsunami em Copa - lembrando sempre que o alto Botafogo deve ficar protegido.

Ficou por minha conta lavrar a presente ata, que escrevo, divulgo e assino nesta data.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Atualizações

Hoje resolvi fazer o que estou para fazer há séculos: enfiar links nesse blogue.
Como qualquer coisa que se resolve fazer depois de séculos, óbvio que não concluí.
Mas pretendo.
Como o próprio nome diz, são simplesmente lugares para passear. Sei que deveria fazer uma apresentação gentil de cada um, pois trata-se de gente para lá de interessante e querida, que produz com autenticidade e inteligência. São na maioria amigos (ou conhecidos, ou conhecidos virtuais, sim, isso existe). Gente que escreve, como o Tony, o Flávio, a Diana, a Alice, o Bruno, a Gê, o Turvo, a Bíbi, gente de teatro, como o Fernando e o Manu, e gente que desenha e fotografa, como o Daniel.

Minha lista dos favoritos não está inteira aqui, um dia estará. Zelei por colocar os amigos que escrevem, mas falta coisa, ô se falta.

E a falta de explicações pode ser melhor do que colocar um teaser. Incentivo de montão que vocês se aventurem nessas pagininhas.

É. Não tenho mais nada a dizer. Só que quando coloquei o link do Manoel me deu muita saudade dele. Ele mora no meu bairro, o infindável e irritante Botafogo, que de tanto morar aqui nunca o conhecerei. Mas eu não vejo o Manu há séculos e sinto muita saudade dessa coisa. Enfim, você não devia estar lendo essa declaração de amor, você nem me conhece, nem conhece o Manu, mas você conhece saudade e já deve ter tido catorze anos. Um dia, Manu, um dia a gente se esbarra, eu vou gritar e te morder.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Hoje aprendi três coisas novas:

- aprendi os motivos por que as pessoas não se irritam ao não entender um tratado de botânica, mas ficam extremamente irritadas porque não compreendem a descrição de uma escultura.

- aprendi que não há tribunal de utilidade para o pensamento.

- aprendi a quebrar a clavícula de um pivete, se for assaltada.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

o desenhador e o resumidor

Muitas pessoas sabem, por exemplo, que a água escoa, porque, como parece acontecer com outras coisas no mundo, a água cai para baixo. Entretanto, apenas algumas pessoas sabem que a água, bem como os pingentes e os fios de cabelo, precisam de um lugar para escoar, comumente chamado de ralo.

As pessoas que sabem o que é ralo muitas vezes não sabem que existe uma outra pessoa que projeta o ralo, de modo a encontrar o melhor material para o melhor escoamento, a melhor disposição dos furinhos no metal, o melhor desenho dos furinhos; o ralo mais apropriado para a cozinha, considerando os restos de beringelas, para o boxe do chuveiro, considerando as flunfas de Robson, e para a pia do banheiro, considerando os fios de cabelo da escova matinal de Mariana.

O desenhador de ralos é uma pessoa insignificante, que mora em algum lugar bem frio e tem um computador. O desenhador de ralos sonha diariamente com o dia em que todos os ralos estarão fechados, menos o da casa dele. Ele tateia a imagem: toda a população mundial imersa em restos de cebola e alho, fios de cabelo loiro, pingentes e brincos nadantes no meio de muita água, preferencialmente suja com as flunfas de Robson, e apenas um único ralo, o da casa do desenhador de ralos, fazendo o escoamento da água. O desenhador de ralos imagina, adorna o pensamento dá uma risada contida: não é homem de deixar transparecer suas emoções.

Muitas pessoas sabem, por exemplo, que existem xícaras, estantes de metal, camisas rendadas e, junto com essas, as novelas de televisão. E muitas pessoas sabem também que existem resumos das novelas de televisão. Tais pessoas conhecem o fato de que os resumos saem em quadradinhos minúsculos no jornal de domingo.

Mas poucas pessoas sabem que existe o resumidor de novelas.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Clica

Esta que vos escreve assina graciosa matéria sobre o candidato a vereador João Batista no site Palma Louca. Conheçam o homem que foi expulso de casa por nove mulheres e um partido e emocione-se com a saga de uma repórter que leva cafungadas do entrevistado ao realizar seu ofício.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Porra.
Não consigo ver coro infantil sem chorar.

terça-feira, 16 de setembro de 2008


Há um lugar na galáxia, na constelação de Órion, que junta muita poeira cósmica.
O acúmulo de poeira cósmica propicia o nascimento de estrelas,
daí esse cantinho se chamar berçário de estrelas.

Eu vi uma foto do berçário de estrelas e achei bonito para dedéu.
Então catei uma imagem para colocar aqui.
É.
Acho que vai ficar bacana.

domingo, 14 de setembro de 2008

a serenata

20 passos para fazer uma serenata para si mesmo:

1. Pegue um aparelho de som, um CD-player. Não exagera, não precisa ser vitrola.
2. Vá para a portaria do seu prédio fingindo que vai levar o CD-player para o conserto.
3. Poste o aparelho de som sob a sua janela.
4. Tem que ser bem embaixo, senão não é serenata.
5. Veja se há alguma tomada por perto. É improvável que exista.
6. Arrume uma extensão na padaria ao lado de casa. Ou no banco de sangue do outro lado da rua. O flanelinha também pode ter uma.
7. Escolha bem a música que quer colocar. Axé não é recomendável, pois mais pessoas podem querer participar da sua serenata. Músicas em italiano ou em francês despertariam muita atenção e alguém desconfiaria da sua sanidade mental. Há quem prefira os sertanejos para as auto-serenatas. Não vou confessar a minha preferência.
8. Corra para casa e finja que não tem nada acontecendo. Atenção: é para fingir para você mesmo. Lavar uma ou duas peças de louça ajuda.
9. Ó, ouço um som, o que será?
10. Quem será que me importuna a essa hora da manhã?
11.(abra a janela)
12. Uma serenata? Para mim? (indigação) Mas você não vê que está atrapalhando os vizinhos?
13.(Pegue um balde d´água e ameace jogar)Exijo que respeite a paz desse quarteirão!
14.(Pausa. Amoleça ao escutar uma parte da música. Seja elegante, escolha uma parte que não contenha a palavra "saudade", "amor canibal" etc)
15. Você fez isso de propósito. Sabe muito bem que eu adoro essa música. (cantarole baixinho, olhando para o céu).
16. Sim, claro, já estou descendo!
17. (Saia correndo. Cuidado para não tropeçar e quebrar a clavícula.)
18. Pegue o aparelho de som discretamente. Devolva a extensão no banco de sangue.
19. Não ligue se alguém te chamar de enlouquecido. Eles dizem isso e depois acabam cedendo.
20. Cuidado caso apareça algum (a) pretendente. Ele pode ser parte do clã e ter gostado da sua performance na auto-serenata. Não é aconselhável se relacionar com esse tipo de gente, há muita competitividade entre os auto-serenatistas.

Não seja idiota. Você constrói a obra ao mesmo tempo em que ela te constrói.

(e em breve: o manifesto da calcinha bege)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Em breve:
Manifesto da calcinha bege.

sábado, 6 de setembro de 2008

estou com uma marca branca bem no colo do peito.
são duas fitinhas finas, que me lembram uma serpentina ou o cordão de prata fosca que perdi no dia seguinte ao que vovó me deu.
as fitinhas brancas começam no meu pescoço e se espalham em uma mancha grande no peito.
não se preocupe, menina, tenha dó, isso me falou a dona que cozinha camarões.
são só marcas de bíquini.
dessas que dá quando o biquíni briga com o sol porque não quer que ele chegue em você. daí a sua pele fica branca. mas só no lugar da batalha.
dia desses até esqueci que sou carioca.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

normalmente prefiro áfe maria a putaquepariu
mas posso até mudar de idéia em certas frases.
não abro mão mesmo é do eita, que é muito melhor que nossa, ou porra. eita é efeito-bomba.
e nostalgicamente ainda curto o tão banalizado merda, que permanece muito forte, principalmente chiando bastante o érre.
só não entendo gente que não fala nenhum.
então vamos lá: eita, que merda.

sábado, 30 de agosto de 2008

Onde mais há mar, dunas, bolo de rolo, tudo ao alcance de um grito?
Sem opção: apenas lá.
Por isso vou fazer uma pausa para um biscoitinho.
Até já.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Seu João se orgulha da profissão do filho.
O Vitinho é help desk, nome bonito, né? No meu tempo tinha isso não.
Seu João dorme de bruços porque tem medo do escuro,
coisa que help desk não sabe consertar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

piscadas

impressionante como de uma hora para outra são ouvidas em todo canto da cidade histórias de pessoas tetraplégicas que só conseguem se comunicar com piscadelas - e que alcançam feitos heróicos a partir disso, coisa que muita gente com boca, mãos e internet não consegue.
o filme é lindo, eu sei, mas não imaginei que ia gerar esse debate todo, principalmente na cesta de laranja lima do Hortifruti.
só ontem eu escutei umas três vezes alguém explicando para outro alguém como se comunica com piscadelas. é assim, ó: [piscadela]. não, é mais devagar, prestenção: [piscadela].
me questiono honestamente se essa não é uma modalidade mórbida e furada de dar em cima do outro.
a que ponto chegamos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

tem uma formiga embaixo da vírgula.

a formiga admiradora de Saramago me faz escrever grandes parágrafos sem pausa para respiração.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cantadas

as cantadas têm estado cada vez mais especializadas. nada de obviedades, elogios, convite para ir ao cinema. sinal, blergh, dos tempos, blergh de novo. por ser mestranda e karateca (e outras coisas que não devo escrever aqui, pois essa é uma página decente), tenho ampliado meu repertório. continuo preferindo o telefone do cachorrinho. e o meu namorado.

"quer ir lá em casa conhecer o meu panóptico?"
cantada com bibliografia escutada no corredor de uma instituição de ensino séria

"ah, vc estuda o melodrama? vamos nos dar bem. eu também sou sado-maso."
cantada com ar de confidência, após conversa sobre o futuro da ficção

"vc não quer dar um pulo lá no do-jo de shotokan da Ilha?"
cantada seguida de um soco na altura do estômago

domingo, 17 de agosto de 2008

Botafogo é parte da Zona Sul B, conforme denominação de um amigo meu.
Botafogo se encolhe tímido entre Copacabana e Flamengo, sem a popularesca putaria de uma e sem a elegante decadência do outro. Botafogo descuida de si, em suas ruas maltratadas e sempre em obras, em seus engarrafamentos intermináveis, cuja causa é sempre qualquer coisa idiota, indigna de ser narrada no jantar. Botafogo não quer ter atenção. Ao contrário: gosta de expulsar seus visitantes para qualquer canto da cidade, seja de ônibus, metrô, táxi ou de vans piratas com moleques berrantes. Talvez para aumentar a sua derrocada, Botafogo é um bairro nacionalista. Ostenta vias de nomes pomposos, Voluntários da Pátria, Real Grandeza, que são pronunciados como nomes de virose pelos habitantes - incapazes de viver sem os tropeções nas calçadas estreitas. Apesar da ênfase patriota, Botafogo nunca foi palco de um acontecimento histórico que justificasse seus nomes, mas toma isso sem a menor amargura. As favelas de Botafogo não são nada demais. Não brilham como a Rocinha e a Maré e não têm traficantes de alto renome. Quem sabe as favelas de Botafogo talvez preferissem se mudar para a Tijuca.
Não se faz nada suportável em Botafogo.
Aqui se pode ir ao médico, pagar contas, fazer abdominais, comer no chinês e, por que não, morar.
Eu vejo Botafogo do alto. Ainda assim, dentro dele.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

olha, no salto ornamental masculino eu torço pelos colombianos.
a contagem regressiva deles é estupenda.

(Você acabou de ler a opinião de
Clara,
ansiosa pelos lançamentos de disco.)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

preciso parar de suar.
apenas por um instantinho
parar de suar.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dandalunda
Janaína
Marabô
Princesa de Aiocá
Inaiê
Sereia
Mucunã
Ana Maria
Dona Iemanjá

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O quartel é logo ali

Morar atrás do Palácio Guanabara tem lá a sua formosura. Não vejo nada do que acontece lá dentro - graças - mas posso ouvir certas coisas. Ontem fui pegar uma fresca na varanda e pus-me a escutar o quartel que faz a defesa do palácio. Enquanto dedilhava o livro de um escritor brasileiro novato metido a modernex, meus ouvidos estavam em outra sintonia.

9.39: ensaio da banda do palácio. Hino nacional. Primeira parte caprichada. Confesso que balbuciei umas palavras. Adoro o "fulguras, ó Brasil, florão da América".

10.15: carruagens de fogo. Seria uma homenagem às olimpíadas? O cara do trompete desafinou várias vezes.

10.35 música da vitória do Ayrton Senna. Hã? Isso mesmo, música do Ayrton Senna, aquela cujo nome eu desconheço, mas tenho certeza de que você me entendeu.

10.47: treino técnico de tiro com revólver. Tiros secos executados a intervalos precisos. Alguns gritos de orientação: "Segura isso direito, Jurandir."

11.56: treino truculento de tiro com metralhadora, sem técnica nenhuma, entremeado por risadas.

Divertida, essa minha cidade.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

ninja três vezes por semana, durante uma hora
socos e chutes de frente, com a força do quadril
defesa ligeiramente de lado, para diminuir a zona exposta
respiração com grito para liberar a energia
golpe no pescoço que deixa o outro desacordado
kata, kiai, gedan barai
e a meditação no final
devia ter feito isso antes.
vai encarar?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

ih,
acho que você caiu na página errada.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Felicidade digital

Oiê. Risos.
Olá. Risos.
Faz tempo que vc não entra aqui, risos, hein?
Pois é, risos. Passei um tempo sem poder.
Ah, é? Não vou negar, risadas, eu bem reparei.
É. Operei a retina, risos.
Puxa, logo a retina, risos. Mas agora está melhor?
Estou. Vejo vultos, risos, com o olho esquerdo. E vc? O que tem feito?
Nada de importante. Entro, posto, comento, converso, rs.
Vida normal, rs.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

a melhor maneira de adquirir outra personalidade é colocar um perfume.
hum.
anteontem saí de mulher-aranha suicida.
a-hã.
está duvidando?
imagina, meu bem.
imagino, muito bem.

domingo, 20 de julho de 2008

101

Eu sou pobre, pobre, pobre
De marré, marré, marré
Eu sou pobre, pobre, pobre
De marré Dercy

Essa eu tirei de uma exposição em homenagem à Dercy, que rolou ano passado na Casa de Cultura Laura Alvim. Dercy disse que só ia morrer quando quisesse. Assim fez. 101, muitas pelancas, carteirinha de puta e cidadã honorária. Não é mole. Viva ela, viva um montão.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ontem conheci um sujeito que nunca tinha lido Cortázar.
Engraçado.
Parecia ser uma pessoa absolutamente normal.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

a alma ao diabo em plena Rio Branco

Financiadora Dinheiro Rápido
S/ avalista
S/ conferência no SPC
S/ juros muito altos
Entrega na hora

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Dieta

Decidi me tornar uma pessoa séria.
Para não ter ataque de riso porque o professor de alemão está com o zíper aberto.
Para não chorar escutando fado.
Começo na próxima segunda-feira.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A palestra

Essa semana fui ao IFCS ver a incrivelmente anunciada palestra do Edgar Morin. Para quem não sabe, Morin é um filósofo, um dos grandes autores do século XX, participou da resistência francesa à segunda guerra, publicou inúmeros títulos. Concordemos ou não com sua arquitetura de pensamento, é um grande nome.

Chegar no IFCS já é uma experiência surpreendente. Eu, que achava que ia ser convocada para a luta armada logo ali nas escadas, recebi um panfleto de pensão para moças e outro de aulas de espada. Sentei-me no lotadíssimo chão, completamente esmagada, forçando ao máximo a minha capacidade contorcionista, que não usava desde o dia em que fugi com um circo chinês.

Morin falou em uma mistura de português com espanhol com sotaque francês que demandava um esforço severo de compreensão, devidamente recompensado pelas idéias interessantes que trazia sobre os circuitos da condição humana. Fim da palestra, palmas, muitas palmas, muito bem, agora o público pode fazer perguntas.
Uma mulher logo agarrou o microfone.
Morin, o que o senhor acha das pessoas-melancia?
Hã?
Isso, as pessoas que são verdes por fora, ecologistas, e vermelhas por dentro, comunistas.
Burburinho geral. Nunca escutei uma coisa tão idiota na minha vida - e olha que sempre estou ouvindo as mais truculentas besteiras. A vergonha atravessou a sala em meio segundo: trezentas pessoas com vontade de enterrar a cabeça naquele chão cheio de cupim. Morin fingiu que não entendeu a pessoa-melancia e fez algumas divagações sobre o capitalismo.
Ao fim, a mediadora agradeceu a presença do mestre, que não só veio ao Brasil mas "nos dava a honra de passar seu aniversário conosco". Não é difícil adivinhar o resto. Alguém lá atrás puxou e o auditório cantou parabéns pro Edgar. Rá-tim-bum, Edgar, Edgar! Dessa vez o próprio Morin parecia mais do que envergonhado.
Saí de lá e fui com umas amigas no Café Cavé. Pedi um mil folhas. Pelo menos ele estava delicioso.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Horário de almoço.
Volte mais tarde.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A mesma ponte, o mesmo rio, os mesmos carros. Apenas a agonia era diferente. Já estava acostumado com agonias, sabia até mesmo controlá-las, às vezes roía as unhas, tomando cuidado para não moer demais, às vezes enfiava as mãos nos bolsos, só que essas merdas de calças modernas têm bolsos muito pequenos. A ponte, o rio, os carros. Dali haviam se jogado talvez umas cento e trinta e sete pessoas no último ano, eu digo cento e trinta e sete porque não sei o número e tudo que se finaliza em sete é muito específico e passa verdade, embora eu não saiba bem o que é verdade. Isso já me dizia uma namorada antiga, que não chegou a me ver roendo as unhas, muito menos escrevendo a carta que deixei para a minha mãe, que eu marquei com sangue, porque um dia vi isso num gibi e gostei. A ponte, o rio. A água parecia gelada, e se eu não morresse na queda ia morrer de frio. Nunca tive medo de morrer. Nunca quis morrer dormindo. Morrer calmo. Fosse isso, teria tomado uns remédios. Tenho medo mesmo é de não morrer. E se eu apenas fraturasse a mandíbula? E se apenas ficasse sem um braço, ou tivesse somente metade do cérebro paralisado? Vesti minha jaqueta de couro e suspirei fundo.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

achar tudo muito idiota
é sinal de riqueza intelectual
ou de prepotente velhice?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Rotina

Chuto pombos na rua três vezes por semana. Pelo menos.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Quero conhecer o antônimo de drible.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

e o mar não estava batendo com tanta força.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Sei que muita gente já conhece, mas eu não resisto. Aí vai o menor conto da literatura mundial:

"Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá."

Augusto Monterroso

terça-feira, 17 de junho de 2008

Que mágoa que nada, ficaremos amigos. Agora pode sair.
Bata a porta devagar, sim?
Nunca tive mesmo completa afinidade amorosa com pterossauros.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Detesto encontrar gente no ônibus e no metrô. É um saco. Não que não goste do fenômeno gente; pelo contrário, tirando os dois dias no mês em que preferia ser um jabuti, gente me cai muito bem. Mas não quando estou querendo deixar que meus pensamentos pensem sem que eu tenha que pensar por eles. Muito menos quando estou querendo escutar a conversa alheia. Nos ônibus e no metrô, prefiro escutar o papo dos outros do que falar com alguém.

Portanto, a gentil recomendação: não me faça fingir que não te conheço. Isso é chato, dá um certo trabalho para o fingimento ficar natural. Para ser sincera, só consegui o efeito da naturalidade essa semana, depois de muito ensaiar. E ainda tem gente que não entende.

terça-feira, 10 de junho de 2008

é mesmo?
é.
sorte sua.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

um instante qualquer

"Ô motorista, pára no próximo que eu vou descer, estou carregando ovos."
Grito da senhora de olhos apertados, em frente ao Espaço Sérgio Porto.

"Esses ovos são caipiras e estão empilhados, eu comprei sem caixa."
Aparte da senhora de olhos apertados para Clara, que tem mania de histórias de ovos desde que colocaram esse nome nela.

"Cuidado, quebrar ovo caipira em ônibus dá azar."
Conselho de Clara para a senhora, que se benzeu assustada e desceu na Fornalha.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Minha amiga disse que era caolha e apátrida.

Céus. Nunca tive uma amiga com tanto A nos adjetivos.

domingo, 1 de junho de 2008

meus medíocres sonhos - parte 2

1. Comer sonho de padaria com o Elvis Presley.
2. Dançar fado com o Elvis Presley.
3. Dirigir uma empilhadeira. Hoje vi uma linda.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

os acadêmicos se dizem portadores da liberdade de pensamento e crítica social na contemporaneidade.

mas eu acho que os pagodeiros são mais.

(será que tenho tino para pagodeira?)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

não tem jeito. a amarela é mesmo a melhor das juquinhas.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Debaixo dos caracóis

Por algum motivo estranho, me deu vontade de fazer trança embutida.
Mas como eu mal sei fazer rabo-de-cavalo, bateu um desespero. Fui procurar ajuda no Google.

Apareceram umas figurinhas coloridas e me pareceu mais fácil construir um foguete para a lua do que trançar o meu cabelo. Insisti: uns fios para lá, umas mechas para cá, alguns dedos presos no cérebro, e dali a pouco algo.

Minha trança ficou parecendo um sapo.

Não me importei, posto que gosto dos animais de língua grande, e saí na rua com a trançapo.

Veio uma princesa e beijou a minha trançapo. Esperou a transformação com ansiedade, mas a trança ficou igual: não se transformou em nada, nem em plebeu, muito menos em príncipe. A princesa reclamou, disse que eu tinha que ver no Google, que eu não sabia fazer trançapo direito.

Essas princesas de hoje em dia, tsc-tsc, estão apelando.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

o vestido era cor-de-burro-quando-foge.
mas eu preferia cor-de-burro-quando-fica.
quem sabe cor-de-burro-quando-se-revolta,
cor-de-burro-quando-nao-faz-nada,
ou cor-de-burro-quando-pensa-no-barulho-de-sinetas.
fiquei de decidir amanha.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

atchim!
aaaaaa
tch - tchim!
(fung)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Prezado J.,

E se eu tivesse 64 anos, ainda assim você me beijaria?

Atenciosamente,
L.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Mistério

Alguém esqueceu um casaco aqui em casa.
Trata-se de um casaco masculino, dupla face preto-cinza, aberto na frente, sem capuz e de marca francesa, misteriosamente deixado na ponta do gancho do cabideiro.
O casaco pode ter sido usado em um enterro solene e não muito intenso, em uma festa rave de dia frio, em uma cena de chuva de filme urbano.
Pode ter sido presente de namorada, de tia, ou comprado apressadamente pelo próprio dono em um shopping em Botafogo, com uma vendedora pretensamente feliz.

O agasalho carrega muitas possibilidades. Que não serão colocadas em prática se ele continuar aqui, na ponta do gancho do cabideiro. Ei, dono, manifeste-se. Ou eu vou levá-lo para passear.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Querida Célia,

Agradeço sua carta e os desejos de melhora. A simpatia da sua avó me ajudou: tenho mentalizado gemada todo dia antes de dormir e isso me dá um tremendo alívio. Ontem mesmo recebi um e-mail que dizia: o ovo frito voltou. Que alívio que me deu! Finalmente! Já fazia um tempo que aquele ovo tinha sumido da minha gaveta, achei que ia passar todo o resto da minha existência sem ele. Logo aquele, que tanto demorei para chocar.

Pode parecer estranho, eu sei, não fique assustada, querida Célia. Você ainda é novinha, não sabe o que é ser uma galinha bloqueada. Desde que comecei a ter levas mais demoradas, passei a armazenar meus ovos em uma gaveta, aqui em casa, perto do computador, para ter uma reserva. Não guardo na granja não: tem muita galinha invejosa, Celinha, você se prepare. A roubalheira de ovos anda grande hoje em dia. Se a clara é rija, então, nem se fala. Mas está cada vez mais difícil armazenar os ovos, hoje em dia estão tão revoltadinhos... uns queriam ter virado pinto, outros omelete, e acabam dando um jeito de fugir da gaveta para tentar cumprir o que acham que é a sina deles. Foi o que aconteceu com esse ovo frito de que lhe falo. Enfim, agora ele voltou e me deixou mais feliz. Sinto até que posso sair dessa minha fase de bloqueio.

Um afago em todos. E mande notícias.

Dinorá

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Você arrasta o sofá com esforço, apenas para dar uma leve varrida, e topa com uma nota de cinqüenta reais há muito perdida. Filipeque. Abre a gaveta desordenada, procurando um documento bastante necessário, e esbarra com uma foto quase esquecida daquela pessoa mais que querida. Filipeque. Pega um livro emprestado, puído de mau-humor, e entre as páginas 21 e 22 se depara com um bilhete de amor que poderia ter sido seu. Filipeque.

Filipeque é o nome que se dá às pequenas felicidades encontradas por acaso. Eu sabia que isso existia (ô), apenas o nome desconhecia. Aprendi ontem e na verdade já esqueci. A palavra não é essa, é outra, não me recordo de jeito nenhum. E isso pouco importa, porque, filipeque, arrumei uma nova.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

daí me bateu uma vontade cã de me tornar avó.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Asseados

Um banheiro químico vazio pesa 90 quilos.
Cheio, 290.

Nunca pensei que um dia saberia essas informações. Mais, precisaria delas. Ó céus.

Pior é que a capacidade humana de encher um banheiro químico em quatro horas me levou a uma série de questionamentos sobre a fisiologia animal. Em alguns momentos, daria tudo para ser um mosquito. Ou um jabuti. Algum animal que não use banheiros químicos.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

veio me dizer que meu comportamento era obcecado.
obmolhado, meu bem.
ob muito molhado.

terça-feira, 6 de maio de 2008

trágicas resoluções drásticas: algo contra?

segunda-feira, 5 de maio de 2008

meus medíocres sonhos - parte 1

um dia
quando estiver de bobeira
vou me transformar
em um pingüim de geladeira

domingo, 4 de maio de 2008

o ateu, como explica a palavra, é aquele que não acredita em deus.
o ateu é livre para acreditar em tudo o que quiser, menos em deus.

escreve bilhetes para santo antonio, oferece brincos e pentes para iemanjá, veste o escudo e as armas de Jorge. freqüenta cartomantes de turbante, tarólogas com sotaque, acende incenso para espantar energias ruins e para chamar os que já se foram.
fuma cigarros espiritualizados, entoa cântigos de ligação com o além.
quando o bicho pega, recorre a santo expedito, bem como a oxum e a bruxas de importantes convenções.
Mas deus, não, obrigado. Esse não existe.

terça-feira, 29 de abril de 2008

O meu tio viaja muito, para lugares longe daqui, onde só dá pra chegar de avião que voa bem alto, e ele sempre volta cheio de presentes, e contando muitas histórias e eu gosto muito. Meu tio me contou que na China os homens têm o cabelo liso e o olho puxado e um cheiro fedido de cebola ardida com vinagre. Meu tio disse que eles lutam espadas muito bem, e também artes marciais, e que lutam no meio da rua e em qualquer canto, até mesmo no cemitério e no foguete indo pra lua, e um deles até tentou desafiar o meu tio quando ele tava num restaurante, mas não conseguiu, porque o meu tio sabe magia negra e acabou imobilizando o chinês no pensamento, antes mesmo dele pegar a espada.

Meu tio disse também que foi visitar o túmulo de um moço chamado Mao-Tsé-Tung, um chinês que também tinha o olho puxado e que fez uma coisa muito boa lá na China que se chama revolução, e falou que o Mao-Tsé quando viu o meu tio não agüentou ficar parado no caixão e acabou levantando só para falar com ele e apertar a mão dele. Depois o meu tio contou que os chineses que moram na China não comem nada disso de pastel com caldo de cana, comem mesmo é cobra, macaco e até escorpião. Mas nisso eu não acreditei, que eu não sou boba nem nada.

Lições de metrô

O metrô do Rio tem um plano secreto e eficaz: civilizar seus passageiros. Não é difícil perceber, principalmente naqueles ônibus de extensão. Você entra, o cobrador ou motorista está feliz, te diz bom-dia, o ar-condicionado está funcionando. Ninguém esbaforido. Ninguém se encosta muito, mesmo que haja uma certa lotação. Todos escutam a música, invarialmente clássica e alemã, que está tocando. Não se pode flertar o jornal do outro. No máximo, discretamente verificar o livro do amigo de banco, mas só o título, não ouse acompanhar um parágrafo. Deixe-o com sua leitura, enxerido. Civilidade total.

Dentro da estação, o metrô é imperativo nas lições de boa educação aos passageiros. Elas gritam nas paredes e no chão: tire a mochila, não fique embarreirando a porta, respeite o vagão de mulher, e, se quiser cantar um pedaço dessa música clássica, faça baixinho.

Pois bem. A senhorinha comentadora na minha frente - há uma legião delas espalhadas por aí - estava inquieta observando um rapaz. Virou-se para mim e, meio surda, gritou: "aquele ali não parece um jagunço?". Parecia. Idêntico. Com um civilizado rabo de olho percebi que o dito rapaz prestava atenção e esperava a minha fala, mas não queria eu deixar a senhora sem resposta. Estava ensaiando um civilizadíssimo "nunca vi um tão jagunçado" quando fui interrompida pelo anúncio do metrô, que dizia que a próxima estação era o Catete.

A senhora: Catete? Catete não quer dizer nada. O que importa é o cacete. Não acha?

segunda-feira, 28 de abril de 2008

o tédio

Proclamo-me contra a palavra tédio. É uma contradição em forma de letras. Vai da tensão ao extremo alívio, do grito à resolução: como poderia, então, ser enfadonha como se propõe? Para pronunciá-la, temos que abrir a boca com um certo sorriso, colocar a língua entre os dentes da frente, concentrar-nos e então té, imprimir um primeiro ruído de força, como um grito de desepero, ou uma lembrança de agonia. E depois, algo imperceptível, um dio arredio e acomodado, como uma solução tomada que é há muito sabida. Muitas transformações para as cinco letras da modorra.

A palavra inconstitucionalissimamente, que me gabava de conseguir falar aos seis anos, parece mais adequada. Vou promover a substituição: em vez que falar, que tédio, direi, que inconstitucionalissimamente!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A despeito de minhas frescurites e fobias, em relação às lagartixas não nutro nenhum nojo. Há várias passeando pelo meu lar, e não me incomodam, nem a estranha textura de sua pele, nem o olhar sonso para os mosquitos, nem o susto quando se acende a luz. Sobre as lagartixas, só uma coisa me incomoda: elas procriam. Daí nascem as baby-lagartixas, essas sim, muitíssimo horrorosinhas. Rabo fora do lugar, pele indefinida, inábeis com os os insetos mais idiotas. Tenho absoluto pavor. Preferia que fossem camaleões. Ou um besouro, uma fruta do conde, um cartucho sem carga. Mas baby-lagartixa não dá.

domingo, 20 de abril de 2008

jura?
é mesmo?
como assim?
nada mais me choca.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Meia quinta-feira e três descobertas:

1. Melodrama e psicanálise têm uma relação secreta e absolutamente analógica.
2. Sensacionalismo e narrativas melodramáticas nem sempre andam juntos.
3. Perto do joelho também brota celulite.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

ufa.
ufa.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Os pedreiros das Laranjeiras acabam de bater um prato e se ajeitam pra dormir. Uns de barriga pra cima, uns de lado e outros até sentados. Dormem de roncar e babar. Não se incomodam com quem os pula na calçada, nem se der um esbarrão leve.
Os pedreiros das Laranjeiras têm hábitos madrilenhos.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Li o horóscopo hoje. Touro. Umas cinco linhas de letra miúda no jornal paulista. Elas me responderam com eficiência ao que eu nem sabia que tinha me perguntado. Que alívio. Isso de ser sobredeterminado faz um bem danado.

sábado, 5 de abril de 2008

Méééntiras

Amélia levantou serelepe e veio falar comigo: méééé. E acabou chamando a atenção de Helga, que estava pastando na maior letargia, mas não se conteve e me chamou a atenção: mééé. Até Suiane, tímida que só, mééé deu uma sacudida. Daí eu respondi: cacilda!

Quando criamos esse blog, eu e as ovelhas não sabíamos o que aconteceria. A intenção era simplesmente exercitar aquilo que melhor fazemos: pastar. Daí nasceu um blog sem proposta, sem lógica e, principalmente, sem leitores. Um ano depois, tudo continua na mesma, com a diferença de que a página tem fiapos de lã espalhados por todo canto (desculpem a bagunça, eu já pedi para as ovelhas arrumarem, mas elas não mééé escutam). Ah, e agora algumas ovelhas de pastos alheios vira e mexe passeiam por aqui. Como você, méééu querido.

O nome com que batizamos esse reino de faz-nada gerou várias confusões. Como é mesmo, hein? Galinhas que dizem pi? Ursos que gemem mu? Cobras que gritam xi? E o ápice: espermatozóides que dizem flai? Vejam bem, olha o respeito, isso aqui é um pasto. O nome rememora os queridos cavaleiros que dizem ni. E eu não sei o barulho que faz um espermatozóide. Posso desconfiar, mas não tenho certeza.

Na era da escassez de tempo para qualquer outra coisa que não seja trabalho-alho-alho, chegamos a uma anti-conclusão de primeiro aniversário: que todo mundo pasta. E que as ovelhas vão continuar dizendo mééé. Não é mééésmo, felpudas?

(Pronto, Helga, Amélia e Suiane. Podemos voltar.)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

gogouar-se

A incrível saga
do verbo irregular reflexivo de primeira conjugação
que caiu na era da pós modernidade:

eu me google
tu me goolgas
ele te goolga
nós vos goolgamos
vós nos goolgais
eles se goolgam

(e todos continuam sem saber quem são.)

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O verbo tem que pegar delírio.

(MB)

domingo, 30 de março de 2008

Eu ouço, mas ele não está tocando.
Eu ouço, juro que escuto, mas ele não está tocando.
E isso não se passou uma só vez, não. Vira e mexe tenho a mais límpida sensação de que estou escutando a musiquinha nervosa que coloquei no celular. Cavuco a bolsa com pressa, jogando pros lados os grampinhos de cabelo, as canetas coloridas, os papéis do banco, as moedinhas e um naco de maçã que devia ter jogado fora. Quando finalmente encontro o celular, nada. Ele não havia emitido um ruído sequer. Nem esboçou um tremelique.
Preocupada com a minha situação mental, relatei a alguns amigos tal infortúnio. E qual não foi minha surpresa quando descobri que muitas pessoas sofrem do mesmo mal, que acabo de diagnosticar como como "síndrome da chamada muito esperada". Ora pois, não é isso que estamos fazendo quando escutamos o que não estamos ouvindo? Tentando ouvir a todo custo uma tal ligação. Os neurônios enganando os tímpanos. Meu irmão futuro-doutor me deu explicações de base científica para o fenômeno, com muitos sufixos esquisitos e palavras de origem cósmica, as quais confirmaram com rigor o meu diagnóstico.
Agora fico me perguntando: de quem seria a chamada que escutei sem ouvir? Poderia ser do entregador de cartas, um sujeito simpático pra dedéu. Ou da manicure, que finge interesse nas minhas respostas. Poderia ser da avózinha, via além-orelhão, ou da Prima Bolha, meu personagem infantil predileto. Quem sabe fosse o General, protagonista do romance que estou lendo. Ou o mendigo que invejei porque tomava banho num chafariz. Talvez pudesse ser a garotinha que arriscava respostas para o monitor da exposição. Mas também poderia ser o Stallone - embora esse não tenha o meu telefone.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Alguém conhece um lugar
com mais farmácias
que o Humaitá?

segunda-feira, 24 de março de 2008

O invento

Era uma dia de verão. Estavam lá os homens reunidos fazendo nada em um terreno baldio. Um corria girando os braços e o outro fazia polichinelo. Um conversava com as nuvens à direita e o outro cantarolava versinhos. Um se despia sem parar e o outro preferia ler Camus. Um procurava formigas trabalhadoras, outro mirabolava sobre a invenção dos chips cerebrais.

Até que chegou o homem que carregava algo. E ele disse, não é algo, é bola.

Daí o homem que procurava formigas falou, passa a bola pra mim. E o homem que carregava algo respondeu, pode até ser, mas só se depois você passar para o homem que lê Camus. E o homem que lê Camus se meteu, você pode até passar para mim, mas só se for com os pés, daí depois eu giro e jogo com os pés pro homem que cantarola versinhos. E o homem que cantarola versinhos ficou assim meio raivoso, eu não vou mandar pra ninguém, eu vou mesmo é acertar algum lugar. Daí o homem que mirabolava sobre a invenção dos chips cerebrais provocou, pra você acertar um lugar é preciso saber que lugar é esse, ô animal. E o homem que fazia polichinelo resolveu tudo, vejam só que fácil, eu pego umas formigas mortas do homem que cata formigas e faço uma marca no chão para marcar o alvo. Finalmente, o homem que carregava algo falou que não era alvo, era gol.

Depois daquele dia de verão, nunca mais se fez nada no terreno baldio. Fazer nada agora tinha regras e nomes, como falta, escanteio, toque e quatro-quatro-dois. Fazer nada era muito mais divertido assim, pensavam os homens do terreno. Que continuava baldio, mas agora tinha muitas formigas mortas em linha reta. E para quem não sabe as regras do nada, cartão vermelho.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Meus amigos da sétima série

Luciana Almeida
Fazia experiências inusitadas com contrações e conjugações verbais.
- Num dá patu botar uma roupinha mais bonitinha, não? Tu inda se lasca com essa mania de preto.

Alice Silva e Silva
Utilizava inserções estrangeiras a cada vírgula, caprichando no biquinho.
- Sabe o que é, darling, você fica muito dark dessa maneira. A onda agora é o mega-hype-gothic-punk. Seja cool. Sweetheart.

Juca Teles
Não abria mão do formato escrito da narrativa, mesmo se estivesse só de sacanagem.
- Pois bem, não me furto de certo desgosto com essa sua calça justa e modorrenta. Sua energúmena.

Luli Ludmila
Usava fofa como vocativo, apenas alternando com amigaaa.
- Fofa, me ensina uns truques de magia negra? Dizem que é bárbaro, não é, amigaaaa?

quarta-feira, 19 de março de 2008

Manual prático de uma via

Dicas Botafogo-JB às 18h37. Comece inspirando em dois tempos e expirando em quatro. Se houver um cano de descarga muito fumacento na sua frente, inspire mais profundamente que dá onda. Coce as picadas de mosquito das pernas esquerda e direita alternadamente, enquanto mentaliza a lista de compras de supermercado, ou a mini-saia vermelha que ainda vai confeccionar. Interaja levemente com o motorista do carro ao lado, dizendo "tá foda". Não use outra frase, ninguém vai entender. Procure o extrato da sua conta de banco na bolsa, lamente que não está lá e tente se lembrar onde pode ter deixado. Então imagine onde sua avó deixaria o extrato da conta de banco dela, depois o Bill Gates e, por fim, com certo alívio, o George Clooney. Recite Morte e Vida Severina com a boca cheia de cuspe, e depois com voz de Pato Donald. Avalie com critérios rígidos qual récita foi mais difícil. Ligue o rádio, isso, o rádio. Ria dos papos informais dos divertidos jornalistas da CBN e anote algumas dicas de leituras para o outono. Pegue o celular. Ligue para alguém e desligue na cara. Ache isso divertido. Faça de novo. Quando estiver ali na entrada do Rebouças, comece com os exercícios físicos. Abdominais. Tríceps. Pense o quanto é inútil fazer exercícios e como é muito melhor tocar saxofone. Vislumbre um saxofone e toque-o no invisível, buscando inspiração nas buzinas, e não esqueça de limpar bem o instrumento antes de guardar. Abra uma enciclopédia. Leia verbetes sobre Madagascar e sobre a queda da Bastilha. E não se impaciente jamais - jamais. Você não está em São Paulo.

segunda-feira, 17 de março de 2008

essas pintinhas de dengue
pelo menos
poderiam ser comestíveis.
as da sola do pé dariam mais trabalho.
e as do cotovelo, é claro.
mas vale o desafio.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Dúvidas

Dúvidas crepusculares:

será que terei tempo para fazer tudo que quero antes de morrer?
será que há vida após a morte?
será que eu ficaria bem com o cabelo joãozinho?

terça-feira, 11 de março de 2008

chove.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Cátia

Cátia não tinha mais paciência para Valdir. Depois de umas idas e vindas, de um chove-não-molha incessante, ele até havia tentado ser direto, mas ainda assim parecia-lhe covarde. Ou medroso. Fraco, quem sabe. Achava que os três adjetivos estavam tão juntos em Valdir quanto a camisa que usava nos sábados de festa.

Foi em um domingo pela manhã que a impaciência se transformou em raiva. À tarde, a raiva tornou-se subitamente ódio, e Cátia lembrou-se da pistola chinesa que o avô recém-defunto deixara no fundo do armário.

A casa de Valdir ficava a apenas meia hora a pé. E sete minutos de bicicleta.

sexta-feira, 7 de março de 2008

entre aipim e macaxeira
José preferia
as frutas cítricas

quinta-feira, 6 de março de 2008

Dias desses fui à casa de um amigo, em Copacabana. Toquei o interfone no portão de fora. O porteiro simplesmente abriu a porta, sem perguntar o meu nome e para onde ia. Fiquei um pouco ressabiada. Então ele não me achou perigosa? Na entrada do prédio, informei, com a voz soturna: bom dia, vou pro 1304. O porteiro: primeiro elevador à direita.
Ele não perguntou o meu nome. Não consultou o meu amigo para saber se eu podia entrar. Ele realmente não tinha me achado perigosa. Não considerou que eu poderia ser um atentado aos moradores do lugar, nem que poderia ter planos escusos para assaltar todos utilizando apenas um cortador de unhas.
Fiquei preocupada. Uma pessoa como eu não pode passar despercebida. Sou uma ameaça. Sou uma revolucionária à espera do chamado. Lembrei-me das aulas de tiro com Fidel, das lições de direção defensiva em São Paulo, do curso para golpistas políticos em russo. Definitivamente, aquilo não poderia ficar assim. Utilizei uma técnica que aprendi num curso online de disfarçatez em primeiro grau e virei-me para o porteiro olhando para os lados, como se estivesse esperando um sinal para atacar dos meus companheiros de combate. Perguntei baixinho: o senhor não vai interfonar? Ele, com os olhos grudados no jogo de futebol: pode subir, senhora, tem problema não.
É. A sociedade não está mesmo preparada para a revolução.

quarta-feira, 5 de março de 2008

É março:
calouros pintados suados bem-humorados pedem din-din nas calçadas de Botafogo.
Pingo uns cinco centavinhos e aproveito para puxar um papo,
porque calouros são uma espécie com mais expectativa que grávidas de nove meses.

segunda-feira, 3 de março de 2008

certas respostas

pode ser,
mas só de vez em quando.

sábado, 1 de março de 2008

fado

hoje acordei com vontade de compor um fado.
meu fado era enfadonho
e me deixou enfadada
(talvez um pouco fagocitada)
me apoiei em uma almofada
e pedi ao fado uma carta de alforria

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O né é uma partícula que me desperta certa repugnância. Sempre que me respondem com né, me sinto uns dez degraus abaixo da humanidade.
Hoje mesmo, virei-me civicamente a uma pessoa e fiz a seguinte pergunta:
Você tem um apontador?
Ao que ela respondeu:
Não, né.
Não né? Por que né? É tão óbvio assim não ter um apontador? Seria eu, como possuidora de um apontador, uma bárbara alienígena? Quem tem apontador não merece viver?
Assim que me recuperei do choque do né, resolvi fazer uma outra pergunta a mesma pessoa.
Você concorda com a luta pela significação das teorias pós-estruturalistas?
Não, né.
Né de novo? Então quer dizer que isso é a coisa mais nítida que já existiu no pensamento ocidental? Me deu um certo tremor. Como simpatizante do pós-estruturalismo e possuidora de um apontador, tinha muitas chances de ser exterminada em breve.
Desisti de perguntar se ela gostava de hemingway e se contribuía para o criança esperança. Mas não resisti a perguntar onde fica o banheiro.
É por ali, meu deus.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

depilação, gasolina, livro, calor, internet e rifa de estudante colegial.
rotina e martírio têm a mesma sílaba tônica e, embora essa última possua certa vantagem gramatical, a primeira soa mais forte. timor leste também, mas isso não vem ao caso.

o fato é que nenhuma rotina cumpre seu dever denotativo com a touca de banho nova que comprei.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Inté

As ovelhas resolveram pastar por outras freguesias. Botaram o pé na estrada e foram conhecer pastos pela América do Sul. Helga animadíssima com o tango, e Amélia extra-preparada para o frio do deserto. Me largaram aqui nessa tela fria de blog, veja só que maldade. Eu não me agüentei e corri atrás das minhas felpudinhas.

Aqui fica o nosso até logo. Hasta la vista. E obrigada por ler meus tico-ticos. Já-já estaremos de volta.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

minha gaveta

adoro minhas gavetas desorganizadas entupidas sujas
cheias de boletos de banco
orações para santo
bilhetinhos da sétima série
passes para o zoológico
lembranças de viagem
receita do extrato de tomate
resto de cabelo de quando cortei curto
recortes de jornal sobre assaltantes
mas só os de tipo interessante
passaporte inválido
disquetes do século passado
pasta para dentes sensíveis
fita cassete que gravei do rádio
ordens médicas que não cumpri
desenhos dos meus irmãos
fotos dos meus irmãos
contos jamais escritos
e quase-poesias nunca finalizadas

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

o cristal e o canecão

Quebrei quatro copos essa semana. Um por dia. Hoje, sexta-feira, assumi minha regressão ao canecão de plástico.

O copo de vidro, especialmente o de cristal, não é tão corriqueiro como normalmente se pensa. Beber água em copo de cristal, botequim ou no gargalo não é a mesma coisa. O cristal, com sua fina lâmina de vidro, potencializa o sabor da água. A temperatura na mão é mais gostosa, o toque nos lábios e, finalmente, o gosto. O cristal aguça o paladar para a água, que injustamente recebe os três piores adjetivos que qualquer coisa pode ter, insípida, inodora, incolor. Isso é para mau bebedor. Copo de vidro, e de cristal, é uma maravilha.

Ou melhor, era. Porque agora não posso mais com os copos caros e nem com vidro nenhum. O canecão está aqui, com sua longa asa, me pegue, me pegue. Vá lá, ele tem seu valor. Para quem tem certo vício em mate, café e chocolate, é uma experiência engraçada beber em plático, pois o gosto do que passou antes, por mais que se lave com omo dupla ação, não vai embora. Por isso, tenho tomado mate-vinho, vinho-café, café-suco de melancia, suco de melancia-chá, chá-pina colada. Isso quando não junta mais. Agora, por exemplo, posso jurar que senti gosto de tomate fresco e pepino nessa água. Já senti também gosto de ferrugem de ralo e de mato fresco, além de de uma certa presença de cactus, embora não me lembre exatamente de ter bebido cactus. O canecão evoca lembranças que existiram, que não existiram, ou que ainda vão existir. Estou começando a me divertir.

Vou dar um gole agora. Hum. Acho que senti gosto de pôr-do sol com band-aid. E, ok, uma pitada de gengibre.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

elevador

Este elevador é equipado com modernas roldanas e sistemas de rolamento, que permitem o transporte de 6 passageiros ou 540 quilos. Em caso de emergência, utilize o telefone ao lado.
É terminantemente proibido ficar em silêncio.
Nos primeiros cinco andares, sugerimos comentários sobre o tempo, especialmente sobre o calor. Faça-se de esbaforido, mesmo não estando, e compartilhe com os colegas sua insatisfação.
Do quinto ao sétimo, sugerimos comentários sobre a maluquice e a inconstância do tempo.
Do sétimo em diante, fale algo sobre a música do elevador. Cantarole um pedaço.
Não olhe para o teto, não acompanhe o mostrador de andares, não veja as horas.
Temos ascensoristas especialmente treinados para não permitir o silêncio por mais de cinco segundos; não se assuste se um deles começar a falar sem ser interpelado. Se você não estiver com vontade de falar, use o código: dê bom-dia ao ascensorista, e ele mesmo se encarregará de preencher o silêncio.
Boa viagem.

domingo, 20 de janeiro de 2008

abdução

não entendo por que
nunca fui
abduzida por um ET

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O aquário e o penico

Os chineses têm um senso agudo para captar necessidades humanas ainda não satisfeitas pelos produtos disponíveis no mercado e investir nelas. Mas não são as necessidades óbvias, fome, sede, paixão, liberdade. São sempre as mais sutis.

Hoje eu estive no centro, naquela feliz meiuca do Saara e adjacências. Era meio dia e não estava me sentindo num forno humano. Tinha pressa e fui olhando as lojas pelas beiradas, passando a pontinha de olho, com o interesse típico das pontinhas. Algo me chamou a atenção: um aquário-TV.

Aquário-TV?, alguém havia de me perguntar. Pois bem. Era uma daquelas lojas de R$ 1.99, que atualmente estendem o conceito para R$ 10,00. Os produtos são todos made in China, eventualmente até o dono é made in China, a mulher e o amante (ok, esse último pode comportar algumas variações). O aquário consistia em uma tela pequena, com fundo azul marítimo, algas desenhadas e tudo mais.

Os peixes atravessavam a tela de uma lado a outro, sem parar, da direita para a esquerda, uns em cima, outros mais lá embaixo, uns grandes, outros filhotes, uns mais medrosos, outros bem poderosos. Verdade seja dita, havia uns peixes meio com cara de ouriço. Outros pareciam corujas e alguns me lembraram uma pen drive. Água, peixes passando, estava feito o aquário. Não, o aquário-TV não tem opção, não troca de imagem, é isso mesmo, só passam os peixes.

É o melhor é que não dá trabalho. Não tem que limpar, não tem que lembrar de dar comida aos bichos, o peixe não morre, a criança não fica decepcionada porque o peixe morreu. Numa boa, é muito bom. Eu sempre fico angustiada com a imagem do peixe que pula fora do aquário e acaba se debatendo até a morte, e agora descobri que nunca mais terei esse problema.

Entretanto, não comprei o aquário.

Comprei uma outra coisa: penico descartável. Pois é. Estava escrito bem grande: indispensável para viagens. O indispensável gritou. Estou com uma viagem marcada e resolvi não teimar. Mas isso é papo para depois. Até porque não sei como usar um penico descartável.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

cometa

era uma vez um cometa que usava peruca loira.
não era travesti, não:
ele queria fingir
que era uma estrela cadente.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Um hai-kai-zinho

No papa, há quem acredite
e também em cremes
anticelulite

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

eita.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

lista de resoluções

Lista de resoluções de ano novo é algo muito limitante. Veja bem, você tem uma infinidade de tempo, uma infinidade de possibilidades, e limita tudo em meia dúzia de resoluções. Por júpiter. Prefiro fazer a lista do que não vou fazer nesse novo ano.

1. não vou comer miolos de macaco
2. não vou comer miolos de macaco com shitake
3. não vou comer miolos de macaco refogadinhos
4. não vou tocar fagote de 1954
5. não vou tocar fagote com a ajuda de uma corneta
6. não vou tocar fagote com o dedão
7. não vou sacanear o plural
8. não vou sacanear o plural quando ele estiver repousando
9. não vou impedir o sol de encostar na pedra
10. não vou impedir o sol de encostar nos crustáceos

Pronto. Isso eu não faço de jeito nenhum. O resto eu faço, pode me chamar que eu vou.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Bronzeando-se na varanda, Amélia percebeu um cheiro de coisa nova no ar, que só havia sentido uma outra vez em toda sua vida. Era cheiro de passagem de ano. Pólvora misturada com esperança. A ovelha se animou: novo ano, ui, quem sabe até novo pasto! Mas, como não tinha certeza, virou-se para Helga e perguntou: mééé? Helga titubeou. Não podia negar que também estava animada e bastante felpuda com a possibilidade de ano novo ovelhístico. Mas, ovelha chata que é, por não observar nenhum indício real do fenômeno preferiu ser lacônica e respondeu mé. mé-mé. Daí chegou Maria, contando as boas novas dos pastos alheios: mééééé! méééé! E as ovelhas ficaram numa empolgação só. Cantarolaram, dançaram e uma lá até tocou fagote.

É, minha gente. 2008 vem aí. E, pelo que parece, as ovelhas vão continuar dizendo mééé.