O metrô do Rio tem um plano secreto e eficaz: civilizar seus passageiros. Não é difícil perceber, principalmente naqueles ônibus de extensão. Você entra, o cobrador ou motorista está feliz, te diz bom-dia, o ar-condicionado está funcionando. Ninguém esbaforido. Ninguém se encosta muito, mesmo que haja uma certa lotação. Todos escutam a música, invarialmente clássica e alemã, que está tocando. Não se pode flertar o jornal do outro. No máximo, discretamente verificar o livro do amigo de banco, mas só o título, não ouse acompanhar um parágrafo. Deixe-o com sua leitura, enxerido. Civilidade total.
Dentro da estação, o metrô é imperativo nas lições de boa educação aos passageiros. Elas gritam nas paredes e no chão: tire a mochila, não fique embarreirando a porta, respeite o vagão de mulher, e, se quiser cantar um pedaço dessa música clássica, faça baixinho.
Pois bem. A senhorinha comentadora na minha frente - há uma legião delas espalhadas por aí - estava inquieta observando um rapaz. Virou-se para mim e, meio surda, gritou: "aquele ali não parece um jagunço?". Parecia. Idêntico. Com um civilizado rabo de olho percebi que o dito rapaz prestava atenção e esperava a minha fala, mas não queria eu deixar a senhora sem resposta. Estava ensaiando um civilizadíssimo "nunca vi um tão jagunçado" quando fui interrompida pelo anúncio do metrô, que dizia que a próxima estação era o Catete.
A senhora: Catete? Catete não quer dizer nada. O que importa é o cacete. Não acha?
terça-feira, 29 de abril de 2008
Lições de metrô
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3 comentários:
Amei!
eu concordo com a senhora!! rsss
tá escrevendo direitinho, hein
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