Quebrei quatro copos essa semana. Um por dia. Hoje, sexta-feira, assumi minha regressão ao canecão de plástico.
O copo de vidro, especialmente o de cristal, não é tão corriqueiro como normalmente se pensa. Beber água em copo de cristal, botequim ou no gargalo não é a mesma coisa. O cristal, com sua fina lâmina de vidro, potencializa o sabor da água. A temperatura na mão é mais gostosa, o toque nos lábios e, finalmente, o gosto. O cristal aguça o paladar para a água, que injustamente recebe os três piores adjetivos que qualquer coisa pode ter, insípida, inodora, incolor. Isso é para mau bebedor. Copo de vidro, e de cristal, é uma maravilha.
Ou melhor, era. Porque agora não posso mais com os copos caros e nem com vidro nenhum. O canecão está aqui, com sua longa asa, me pegue, me pegue. Vá lá, ele tem seu valor. Para quem tem certo vício em mate, café e chocolate, é uma experiência engraçada beber em plático, pois o gosto do que passou antes, por mais que se lave com omo dupla ação, não vai embora. Por isso, tenho tomado mate-vinho, vinho-café, café-suco de melancia, suco de melancia-chá, chá-pina colada. Isso quando não junta mais. Agora, por exemplo, posso jurar que senti gosto de tomate fresco e pepino nessa água. Já senti também gosto de ferrugem de ralo e de mato fresco, além de de uma certa presença de cactus, embora não me lembre exatamente de ter bebido cactus. O canecão evoca lembranças que existiram, que não existiram, ou que ainda vão existir. Estou começando a me divertir.
Vou dar um gole agora. Hum. Acho que senti gosto de pôr-do sol com band-aid. E, ok, uma pitada de gengibre.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
o cristal e o canecão
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