quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Auto-assunto

Existem uns caras nas ruas do Rio que têm por profissão levantar a auto-estima das mulheres. Eles se espalham em pontos estratégicos só para falar: gostosa! boneca! com essa eu casava! fiu-fiu! E por aí vai. Para quem acordou de mau-humor, se achando uma ameba podre, esses caras são muito úteis. Basta colocar uma roupinha justa ou mais curta que é tiro e queda.

Ultimamente ando reparando num fenômeno estranho. Ao invés de tecer elogios, os caras me olham e gritam: concordo! é isso mesmo! Comecei a me perguntar, céus, o que está acontecendo comigo? Daí descobri: eu falo sozinha o tempo inteiro. Posso estar triste, feliz, puta, qualquer coisa é motivo para falar sozinha. Conto coisas para mim mesma, invento histórias, dou risadas, resolvo a vida dos outros, reclamo dos impostos bancários, lembro da minha avó que morreu, tudo falando sozinha. Por isso os gritos de concordo! dos caras da rua. Já tentei parar com isso, mas é muito difícil. Às vezes eu tento disfarçar com óculos escuros, mas acho que não funciona.

Resumindo: nunca mais serei chamada de boneca pelos profissionais do levantamento de auto-estima. Mas, de repente, um dia eles querem saber o meu auto-assunto.

Um comentário:

aqui disse...

de repente, um dia, eles podem ler seu auto-assunto.