Tenho 23 anos e ninguém nunca me chamou às armas. Ninguém nunca se aproximou de mim e me convocou para a luta. Sempre aguardei o chamado que nunca aconteceu. Incrível isso, não é? Uma vez eu quase desconfiei que havia chegado o chamado. Estava no açougue e o atendente me falou: os vegetarianos estão invadindo. Pensei, é a senha, é a senha. Minha arma escondida num naco de boi, dentro do frigorífico. Fiquei nervosa, me aprumei para responder. Que engano. Ainda não era a minha vez. Mas não desisti. Outro dia tava na fila do mercado, comprando iogurtes, e a caixa me falou: promoção bolinha vermelha só até amanhã. Na hora vi que era a senha, que genial! Minha arma escondida dentro daquele sensor de código de barras. Estava me preparando para responder ao código secreto, quando vi que não, ainda não havia chegado a minha vez.
Há anos eu espero o chamado. Agora ando desconfiada de uma senhora que passeia com o cachorro na rua em que eu faço pilates. Tenho certeza que dia desses ela vai me puxar pelo braço e falar macia e seguramente: Clara, agora vc se chama Matilde. Seu código é 61. Toma essa sacola, disfarça e deixa ali na entrada do cemitério. Vai aparecer um companheiro para te comunicar da ação. Lembre-se, vc não pode mais atender por Clara, só por Matilde. As suas armas serão entregues pelo companheiro Leone, que estará de meia azul.
Mas não. Nunca ninguém me chamou para a revolução.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
às armas!
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Um comentário:
e, veja que horror, nunca me convidaram para um baile. um dia me chamaram pra dançar mas, que decepção, era um samba.
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