quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Hino dos babacas
(cantar na melodia do hino nacional)

Eu vi na Guanabara o babaca
Com uma loira burra ultrajante
O babaca era o cara que eu estava
Há menos de cinco minutos antes

Se o babaca
É um babaca
Nem milagre poderá salvar a raça

Tu tens muita
Mediocridade
E não me inspira nem mesmo mais um porre

Ó idiota
E calhorda
Vê se morre

Babaca, escroto intenso, energúmeno
Um cafajeste que a tal nível desce
Tua cara de pau risonha e límpida
Com a mesquinharia resplandece

Pequeno pela própria natureza
És um calhorda, impávido beócio
A tua covardia é de tal grandeza

Não me dói nada
Entre outros mil
És tu mais um
Fora da jogada

Eu te mandei pra puta que o pariu
Ó babaca-imbecil

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Presente

Vago pelo shopping, subo e desço as escadas numa andada quase insone. Lola estaria em uma bota de bico quadrado? Em um sabonete de camomila? Em um vestido com laçarote na cintura? Lola é um CD de Nina Simone ou de Zeca Pagodinho? Um romance americano de 1952?

Nunca consegui dar presentes. É um mal que me atormenta desde as festas infantis, desde os os bailes de debutantes, e não se trata de pão-durismo: não é gastar dois ou quatro reais o que me tira o sono. É não saber o que dar para a pessoa. Não confio nesse critério de utilidade ou inutilidade do presente, pois a inutilidade é sempre muito melhor. Como presentear a pessoa com a inutilidade perfeita? Lembro das matérias dos telejornais na época do Natal e da mais nova profissão: personal comprador de presente. Você dá o perfil do presenteado, o sujeito salta uma solução mágica. Que tal o livro tal para o seu tio ranzinza? Sua amiga não vai de perfuminho cítrico? Um anel, já pensou nisso? Grande sujeito. Isso é que é criatividade.

Continuo não achando Lola nas canetas com tinta azul, nos livros do Kerouac, nos ímãs de geladeira com citações. E lembro de mais uns três amigos para quem fiquei devendo presente só esse ano, depois do mesmo sonambulismo em shoppings e na internet. Para piorar, esses amigos haviam me dado presentes formidáveis. Acende um letreiro na minha cabeça: vou para o inferno. O shopping em promoção, aquela gente ávida por objetos, e Lola não está em canto nenhum. Nem eu.

Um amigo de infância e de adultância faz aniversário uma semana antes de mim. Grande amigo. Nunca nos demos um presente, e achei que esse detalhe biográfico tinha passado batido. Não foi bem assim.
- Você não gosta de dar presente, né?
- Não é que eu não goste. Não consigo.
- Hoje é o meu aniversário. Agora. Meia noite.
- Eu sei. Daqui a pouco é o meu. Parabéns. Muitas felicidades, muitos anos de vida.
- Vai cantar a musiquinha?
- Daqui a pouco. Espera acabar o vinho. Me bateu um sono. Desculpe, eu não consigo desejar parabéns falando nada além dessa parte da música. Acho sincera, a música. Mas quando o aniversário é dos meus avós eu acrescento saúde, assim com bastante ênfase.
- Você só sabe o meu aniversário porque daqui a pouco é o seu?
- Acho que teria decorado de qualquer jeito. Mas essa coisa da proximidade ajuda a lembrar. Sou ruim de aniversário, desculpe.
- Sou pior que você.
- Eu já tentei te dar um presente, no ano passado.
- Eu já tentei te dar um presente, esse ano.
- Tentei até escrever uma carta.
- Não conseguiu, né?

E assim combinamos que a gente não precisava se presentear.

Até o dia em que encontrei um presente que era a cara dele. E não era uma bota de bico quadrado.

terça-feira, 18 de maio de 2010

As unhas, as canetas

Tinhas as unhas bem lixadas, cuticuladas e pintadas de um branco fechado. Um anel em cada dedo, de prata barata, embora bem polida, e pedraria ostensivamente falsa, que preenchiam e pesavam não em apenas um, mas nos dez dedos das mãos. Entrou no ônibus pela porta de trás, abraçando uma caixa como um bebê. Vendia canetas.

Havia do tipo executiva, de um metal leve; do tipo escolar, com borracha para amortecer a pegada, do tipo compacta, que se leva na carteira. Por algum motivo, achou que eu deveria gostar da multicor. Olhou para mim enquanto, com sua voz grave e a barba por fazer, anunciava a facilidade da caneta, que era um tipo econômico, quatro em um, que daria a praticidade de ter um colorido para a letra e outro para o sublinhado, e era de fácil manejo - ele demonstrava estalando os cliques, azul, verde, vermelho, preto.

Ele não sabia que eu não pinto a unha de branco, só de variações em torno de vermelho. E que não consigo escrever com canetas, por mais que tenham cores. E também não poderia imaginar que fiquei obcecada com a sua figura, em que a mão não condizia com o rosto, e com seu modo sutil de ficar um pouco incomodado com a falta de atenção dos passageiros, mas não o suficiente para se calar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mais sobre Botafogo, canto do mundo:

Parece que vai acontecer um crime a qualquer momento, nessa parte perto do cemitério. Oficinas mecânicas, restaurantes PFs, prédios com senhoras olhando os túmulos, carros buzinando incessantemente. Esquartejamento? Nunca soube. Mas muito provável.

Chama-se baixo Botafogo o lugar cheio de bares perebas ali no final da Voluntários. Foi lá que um amigo teceu comentários sobre a estreita relação entre Copacabana e Botafogo. Entendo. Um pouco. Ainda acho Botafogo mais tímido, mas decadente, mais cinza no interior e ensolarado nas laterais e, portanto, mais interessante.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Comentarista desconhecido

Vira e mexe recebo uns comentários muito bacaninhas de gente que não conheço e que acompanha os textos que esparsamente publico nesse blog. Gente que lê, escreve para mim, e normalmente diz que gosta das minhas linhas. Eu, mal-educada que só, não costumo responder. (A minha mãe me educou direito, eu fiquei estragada por conta própria.)

Então aqui vai um post em homenagem ao comentarista desconhecido. É bom ler os comments de vocês. Gratidão. Mesmo. É um post tipo uma estátua do soldado desconhecido, sabe? Então. Uma estátua para vocês. No meio da praça.

Muito legal saber que tem alguém que não conheço do lado de lá da janela.

*
(Hoje acordei de bom humor e, por incrível que pareça, durou até agora.)

domingo, 4 de abril de 2010

Filmão esse O segredo dos seus olhos.

Ameixas

Não aprecio as ameixas assépticas do supermercado. Prefiro as da feira, que já vêm com micróbios em quantidade adequada, cantadas baixas e aumento de autoestima. Por favor, pese para mim duas dessas, moço. Não precisa embalar a vácuo.

*

Três frases para um domingo:

Saudade perfumada > expressão em uma música do Tom Zé

Tradição embalsamada> expressão na mesma música do Tom Zé

Parece que foi em outra vida, mas foi nessa > Trecho de diálogo entre os dois protagonistas do "O segredo dos seus olhos", que poderia ser completado com "ainda dá tempo", mas, ainda bem, não foi, tem gente que sabe dialogar tirando belos finos dos clichês, e assim eu aprecio muito, respeito e me refestelo no sofá.

Barco é berço de adulto.
Vou instalar um no meu quarto.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Na qualidade de ateu por imposição e opção, não creio em nada desde sempre. Ser ateu, ao contrário do que muitos pensam e pregam, não é opção, é falta de. Quando nunca se acreditou em nada, fica difícil passar em crer em alguma coisa. É como uma operação mental que não se completa, posto que não foi feita na idade certa. Crer, para um ateu legítimo, não é escolha, é simplesmente uma impossibilidade. Portanto, não acredito em nada faz muito tempo. E também não suporto a idéia de passar embaixo de escadas.

Havia muitas escadas em Botafogo nessa segunda. No trajeto entre o suco de laranja e o trabalho, precisei desviar de três, para não passar embaixo. Havia mais escadas do que o normal. Não que eu conte escadas nem nada, mas desvio de todas, então tenho mais ou menos uma média por ruas. Botafogo é um bairro de construções: há muitos prédios sendo levantados por todo canto, e todos, os novos também, se erguem com o mesmo desencantamento de todo o resto do bairro, mantendo a aura de algo antigo que nunca vai se revitalizar, e que talvez - mas muito talvez - tenha o nome de decadência. Botafogo é o único bairro da Zona Sul em que ainda são construídos muitos novos prédios, principalmente na região mais cinzenta, a perto do cemitério. Uma lambança de operários, máquinas de rodar cimento, telas de proteção, lá vem o novo, olha o novo chegando. E Botafogo é o único bairro carioca que tem um cemitério e uma enseada. De perto do cemitério, não é possível nem de muito longe imaginar a estupidez da beleza da enseada.

Quando desviei da terceira escada, quase caí na rua. Vou ser atropelado, vou ser atropelado, pensei, quando vi a mão do motoboy puxando. Cheguei a cair, mas

((pronto, consegui começar. Vou terminar em outro canto. Eu sabia que o que estava atrapalhando era o word, que a plataforma do blog ia ajudar. Arrá! Agora vou seguir escrevendo.))

quarta-feira, 24 de março de 2010

Mais um pouco de Botafogo

Em Botafogo, tudo é menor do que deveria ser.

Em Botafogo, não precisa haver fumaça para se ter a sensação de que estamos enfumaçados.
E, embora haja muitos prédios coloridos, varandas rústicas, belas casas do século retrasado, tudo parece cinza. Não precisa haver cinza, de fato. Seria uma redundância. Botafogo é cinza sem ser.

terça-feira, 23 de março de 2010

Resenhas artísticas e intelectuais desse final de semana:

Deixa ela entrar: filmaço
Um homem sério: filmaço
O segredo dos seus olhos: não vi. Me roendo de.
Sunset Boulevard: pirateei três vezes. Presenteei amigos de trabalho.
Voluntários da Pátria: engarrafada mesmo no final de semana.
Pôr do sol no Arpoador: a existência vale a pena.
Desautorizada: palavra que ficou rocamboleando na cabeça.
Onetti: É o próximo.
Franny and Zooey: inspirador, desde sempre.

Resenha da segunda-feira:
A Net, pior empresa de todos os tempos, me cortou e não religa de jeito nenhum. Sem telefone e sem internet, fui obrigada a começar um conto.

sexta-feira, 19 de março de 2010

ready made

Se as palavras se tornam interessantes, ei-la, a literatura. Palavra que não emociona não interessa. Simples assim. Lição de escola de letras? Não, de pedinte carioca.

Já recebi várias vezes, em ônibus, na rua, um papelzinho assim:

Sou surdo e mudo. Não tenho trabalho. Qualquer trocado ajuda. Deus lhe pague.

Eis que ontem, nos Correios da Praia de Botafogo, um homem limpo e bem vestido me entrega em um A4:

Sou mudo. Meu tio alcoolizado me cortou metade da língua com uma faca afiada quando eu era criança. Eu escuto, mas não consigo falar. Por favor me dê dinheiro. Quero comprar uma carrocinha para trabalhar como pipoqueiro.

Incomparável. Há conflito, objetivo, história, detalhes na medida. Um homem sem língua que sonha ser pipoqueiro.

E também há muita miséria humana.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Coloquei um ponto final agora e não é que curti?

Bem diferentes dos poetas românticos, sonhadores delirantes que viviam em busca de uma mulher ideal, existiram os poetas malditos, que recebiam esse nome pelo comportamento desobediente e sem modos, à margem das boas convenções sociais. Fumantes inveterados, boêmios, viciados, largados, doentes, esses vagabundos da palavra tinham os bares como sua segunda casa. Rimbaud e Baudelaire, famosos poetas franceses, habitaram a linhagem dos malditos. Aqui no Brasil, Augusto dos Anjos e Torquato Neto estão entre os que largaram o veneno dos versos no papel. Para deleite dos leitores.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Fita Branca

Anteontem vi o A Fita Branca, badalado filme do Michael Haneke. Foi uma experiência cinematográfica estranha. Quando eu digo experiência cinematográfica, favor entender direito: é aquilo que começa quando compramos o ingresso, depois entramos na sala escura, vemos o filme, saímos. Mais ou menos isso (Ismail Xavier se rebolando todo com essa minha abreviação). Pois bem. Pra começar, eu e minhas amigas compramos o ingresso, depois resolvemos vender e mandamos um papo caótico na bilheteira, que, por ser xará de uma de nós, pareceu convencida do trololó. Eis que, cinco minutos depois, mudamos de ideia: compramos os bilhetes de novo. Urrando de fome, eu comprei um pipocão e estraguei no minuto seguinte, colocando meio quilo de adoçante, em vez de sal. Além disso, ápice do desconforto, o cinema estava um gelo. Como bem diagnosticou minha amiga, "rolou uma Sibéria". Eu tive que meter meus bracinhos na calça de ginástica que estava na bolsa para aguentar até o fim. Uma espécie de casaco marciano.

O filme, um drama fotograficamente muito bem resolvido, trata de uma série de crimes ocorridos na Alemanha do pré-guerra. Não sei se pela condição desfavorável do frio, o fato é que saí de lá sem gostar. Apesar dos personagens fortes, não me entusiasmou.

Não? O ser humano, por incrível que pareça, é humano, e muda de opinião. No meu caso, de um dia para o outro. Três cenas não saíram da minha cabeça. Vou escrever aqui o que lembro. Que fique claro que não são os diálogos do Hadeke, são os meus diálogos do Hadeke.

O menino, depois de fazer uma manobra de risco, atravessando uma espécie de ponte sobre um abismo:
"Dei a Deus a chance para me matar. Ele não me matou. Então eu devo ficar vivo."

O médico, humilhando a sua amante:
- Você fede. Tem mau hálito. É podre. É horrível.
- É o meu problema de úlcera, você já sabe disso.
- Eu só transo com você pensando em mulheres mais jovens, mais bonitas, com a pele boa.
- Você vai ter que me aguentar até o fim.
- Você não presta. Só que uma vez a cada dois meses é muito pouco para mim. Mesmo estando velho.

A menina, chorando resignadamente depois de ser estuprada pelo pai, para o seu irmão mais novo, um lindo menino de quatro anos:
Está tudo bem. Ele só furou a minha orelha. Dói um pouco.

Não dá pra dizer que o filme não deixou lastro em mim, embora gostar não seja o verbo apropriado. JP Coutinho explicou parte do descontentamento com maestria, em artigo publicado na Folha de São Paulo da última terça (não achei na web, para linkar).

Bem. Essa resenha ficou com um pouco mais de três palavras.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Quero mudar de opinião.
Alguém me convence, por favor.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Resenhados

Estou com planos de inaugurar uma seção de resenhas literárias aqui no blog. Meus textos primarão pelo teor de análise teórica pós-moderna e simbólica, sem esquecer do marxismo utópico e das atuais correntes que celebram o relativismo absoluto.

Tudo isso em três palavras.

Bem-vindos, pois, às resenhas de três palavras.

Começo com as leituras que fiz ontem, entre 23h15 e 1h37, no sofá verde da sala. (Tenho que colocar uma capa nova. A verde esquenta muito. Mas dá pra ler mesmo assim.)

Êxodo, conto do Mario Benedetti publicado na última Piauí:
não embarquei.

All That, conto do David Foster Wallace, publicado na The New Yorker:
invejinha das boas.

Revistinha da Luluzinha Teen, episódio 1 da 3a. temporada, o mais fresco das bancas:
Beija logo, Bola!

Aos entusiastas do estruturalismo, não sei se prometo um embasamento mais furta-cor e cintilante da próxima vez.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Daí arregalou os olhos, espremeu um pouco:
Eu te amo.

Por quê?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nutro especial ódio por pessoas que metem palavras e expressõem em inglês em qualquer frase, como se isso fosse fucking-cool-super-hype. Esnobismo sem criatividade, muito em voga por essas bandas. Se fosse alemão, levaria mais a sério.

Minha única concessão ao estrangeirismo fica por conta da palavra pillowcase.

Simples: eu não gosto de fronha. Não do objeto, mas da palavra. Nem o som cai bem.

Algo que abriga, o case, é mais poético, mais aconchegante. Fosse eu um travesseiro, adoraria poder contar com um lençol próprio, feito para o meu tamanho, em que eu me enfiasse à noite.

Isso fora o fato de que fronha parece xingamento. Parecido com almofadinha.
Enfadadas fronhas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Algarismo

simbolismo, altruísmo, surrealismo,

algarismo.

(Não sei bem o que pensam as algas, mas gosto mais delas. Algarismo.)

Medinho

Tenho medo de praticamente tudo.
Trabalhar, perder o celular, deixar a menstruação vazar na roupa branca, não conseguir tirar o besouro que entrou na sala, ficar parada com o carro na linha vermelha.
Tento lembrar algo de que não tenha medo. É difícil.
Nos top five dos medos está escrever. Nem medo, é pavor. Eu tremo, reluto, sou uma cagona. De qualquer modo, continuo escrevendo.
O que mais gosto em estar com medo é saber que estou - daí vem a coragem, um rubor que nem demora a subir. Exemplo: não sei se conto isso ou aquilo para a minha analista. A dúvida dura cinco segundos: conta, sua besta, deixa de ser medrosinha, não vai encarar por quê? Daí vou lá e conto. E é bom. A mesma coisa com escrever: dá vergonha, não sei onde vou parar, mas, se estou apavorada, não posso recuar, tenho que ir adiante. É uma necessidade.
Adoro sentir medo.
Me amedronta?

*
Fiz esse post meio livro de auto-ajuda também para dizer que, na real, não me acostumo a redigir no twitter. Não pela restrição de caracteres, mas porque gosto de escrever sem me sentir lida. Aqui vale, eu tenho a página em branco, é minha, meu brinquedinho, não sei que olhar me vê. Lá não. Ainda me surpreende, depois de tanto tempo, perceber que tem gente que entra no Ovelhas, que comenta. Leiam escondidos, ok? Eu escrevo escondida. Pronto, fizemos um pacto.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

caraca. voltei a escrever.

Onde se compra minério?
Me bateu uma vontade de construir uma ferrovia.

Por que as abelhas morrem quando picam?

Texto que eu fiz para um quadro educativo infantil de um lance na produtora em que sou roteirista, para ser ilustrado a la ilha das flores. Escrevi na ressaca do Carnaval. Nego adorou, mas não aprovou. Falaram que ficou ótimo, mas meio pesado para um infantil. Estou tentando entender.


Por que as abelhas morrem quando picam?


Abelhas são insetos que despertam medo, terror e muitas abanadas desajeitadas. O que pouca gente sabe é que esse ser inspirador de fantasias de Carnaval tem vocação suicida. Isso mesmo. Tal como Kurt Cobain, Virginia Woolf e Getúlio Vargas, abelhas também se matam. E sem se atirar de pontes, sem descarregar armas em seu corpinho listrado e sem tomar coquetel de remédios.

Quando é importunada por cheiros fortes, por vibrações sonoras, ou em qualquer situação em que se sente ameaçada, a abelha pica. E a picada se torna um ataque contra si mesma, pois o ferrão é o prolongamento do abdômen e rompe no momento em que ela abandona a vítima.

Pobre abelha: o crime não compensa.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

No ônibus,
muitos conhecidos.
Mas eu tenho preguiça de falar, preguiça daquele Olá, como vai, toma um sorriso, eu vou bem, até já, toma um aceno.
Daí volto o rosto para baixo, finjo que estou dormindo.
E observo as varizes.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A palavra atrai o meu olhar.
Meus olhos viram intuitivamente para qualquer canto onde exista algo escrito.
Isso é tortura, mas, já que não tem jeito,

*
Apresento-vos as mais frescas visões que tive no 409, trajeto Horto-Botafogo:

1.
Aproxime o cartão - boas festas - aproxime o cartão - boas festas - cartão não identificado - aproxime o cartão - sem crédito - boas festas - favor recarregar - aproxime o cartão.

2.
Tudo peça ao homem da quarta fornalha.

*
Fornalha, até então, era a loja-podrão-disfarçado do Humaitá que serve estrondosas coxinhas com catupiry. Eficiente na tarefa de matar a fome na madrugada pós-noitada. Agora, posso pedir alguma coisa ao homem da quarta Fornalha. Estou aqui pensando no meu pedido. Será cruel.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Três novos personagens na minha prateleira.

Joanna, com dois Ns, adora pessoas com cara de soninho. "Ficam aconchegantes", relatou, enquanto a garçonete trazia o seu café.

Lobato, cujo prenome é desconhecido, coloca o celular entre as pernas enquanto está dirigindo e tem medo de pegar câncer no testículo caso alguém ligue. Mas nunca contou isso pra ninguém.

Pedroca, aparência de 31 anos, duas ex-mulheres e uma herança de tio-avó paterno, está aprendendo a mergulhar de cabeça. Por enquanto, só barrigada.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Me disseram que as rosas não falam.
Eu não acreditei.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

notas sobre Botafogo

Em Botafogo:

- Adoro a trilha sonora das lojas de colchão. Na Voluntários tem duas e eu passo mais devagar quando estou na frente delas. Acho muito estranho que não seja formada uma boate espontânea ali na frente, as pessoas se sacodindo com os travesseiros, as molas, os acolchoados de visitas. Ei, você prefere camadas? Ou molas? Tut-tut-tut. Esse aqui é bom, viu. Lá em casa durou sete anos. Tut-tut. As trilhas fervem. U-hu. Quase esqueço que estou empapada de suor, a caminho do trabalho e imediatamente me transporto para um fresco sábado à noite de julho, numa festa animada com cinquenta meio-conhecidos na pista. Dá vontade de se jogar nos colchões, pular naquelas cadeiras-sofás.
O único problema é que, para além da trilha sonora, as lojas só prometem um sono melhor, já que nós dormimos - ou deveríamos dormir - um terço do tempo de nossas vidas. O problema não é o sono, é o sonho. Eu queria sonhar melhor, mesmo que dormisse só uma meia horinha. Isso você promete também, dona loja de colchão?

- Na locadora do Estação, havia uma caixa de aparelho roxa no balcão. Olhei para os dentes de todas as atendentes, tentando identificar qual delas usaria aparelho móvel, e qual teria escolhido a caixa roxa. Não consegui descobrir pelos dentes. Fiz uma piadinha para que elas sorrissem e eu pudesse olhar melhor, mas não consegui. Frustração. Quando eu tinha treze anos, era muito divertido escolher a cor dos elásticos que colocaríamos nos aparelhos fixos, eu e meus amigos. Era como escolher uma peça de roupa, um perfume. Às vezes ainda aliso os dentes com a língua, procurando as pecinhas dos meus treze anos. Mas o dentista - maldito homem de branco - tirou pouco antes do maio em que completei quinze.

A caixa do meu aparelho móvel era laranja.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

2010, eu estou aqui.