Em Botafogo:
- Adoro a trilha sonora das lojas de colchão. Na Voluntários tem duas e eu passo mais devagar quando estou na frente delas. Acho muito estranho que não seja formada uma boate espontânea ali na frente, as pessoas se sacodindo com os travesseiros, as molas, os acolchoados de visitas. Ei, você prefere camadas? Ou molas? Tut-tut-tut. Esse aqui é bom, viu. Lá em casa durou sete anos. Tut-tut. As trilhas fervem. U-hu. Quase esqueço que estou empapada de suor, a caminho do trabalho e imediatamente me transporto para um fresco sábado à noite de julho, numa festa animada com cinquenta meio-conhecidos na pista. Dá vontade de se jogar nos colchões, pular naquelas cadeiras-sofás.
O único problema é que, para além da trilha sonora, as lojas só prometem um sono melhor, já que nós dormimos - ou deveríamos dormir - um terço do tempo de nossas vidas. O problema não é o sono, é o sonho. Eu queria sonhar melhor, mesmo que dormisse só uma meia horinha. Isso você promete também, dona loja de colchão?
- Na locadora do Estação, havia uma caixa de aparelho roxa no balcão. Olhei para os dentes de todas as atendentes, tentando identificar qual delas usaria aparelho móvel, e qual teria escolhido a caixa roxa. Não consegui descobrir pelos dentes. Fiz uma piadinha para que elas sorrissem e eu pudesse olhar melhor, mas não consegui. Frustração. Quando eu tinha treze anos, era muito divertido escolher a cor dos elásticos que colocaríamos nos aparelhos fixos, eu e meus amigos. Era como escolher uma peça de roupa, um perfume. Às vezes ainda aliso os dentes com a língua, procurando as pecinhas dos meus treze anos. Mas o dentista - maldito homem de branco - tirou pouco antes do maio em que completei quinze.
A caixa do meu aparelho móvel era laranja.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
notas sobre Botafogo
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2 comentários:
Branca. E sempre fedorenta, mesmo com as pastilhas efervescentes que meu tio trazia dos states pra mim.
A caixa do meu aparelho móvel era laranja... mas eu colava adesivos :)
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