Por bem conjugar verbos no passé composé, ganhei de minha professora de francês dois ingressos para assistir a uma palestra de um artista francês muito importante. Eu tinha treze anos e cabelos muito compridos, e minha mãe prontificou-se a me levar.
Antes da conferência, esmerei-me em revisar meu conhecimento no idioma: conjugações, vocabulário, e, principalmente, verbos irregulares, que vira e mexe me confundiam. Escutei umas fitas cassete que acompanhavam o livro didático, para despertar o ouvido e não perder nenhuma palavrinha sequer do artista. Tirando os repórteres da TV francesa e alguns gringos assanhados, nunca tinha ouvido nenhum francês falar, ainda mais um artista.
Fui para a tal palestra. Minha mãe segurava minha mão, para que eu não me perdesse. Era muita gente, com pernas muito compridas. Finalmente sentei, e o tal artista não abria a boca. Mas, que esquisito, eu bem o entendia, com mais clareza que qualquer passé composé. Ele falava com as mãos, o umbigo, o fio de cabelo mais curto, o dedo mindinho do pé esquerdo, os pêlos das narinas, a vértebra de número 13. Falava com as pré-palavras, quem sabe. Com algo que está na cabeça e no peito, e, que bestas, nem nos damos conta. E assim conheci a não-linguagem-universal do maior mímico do mundo, Marcel Marceau. Nessa língua, não existem verbos irregulares.
Agora Marcel Marceau está falando com os fantasmas. E eu aposto que a não-língua deles é igualzinha à nossa.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Eu e Marcel Marceau
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2 comentários:
É sim! Não lembra do Pluft, da Prima Bolha, da Senhora Fantasma e do Primo Gerúndio?
hahahahha!! gostei desse texto!
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