terça-feira, 18 de maio de 2010

As unhas, as canetas

Tinhas as unhas bem lixadas, cuticuladas e pintadas de um branco fechado. Um anel em cada dedo, de prata barata, embora bem polida, e pedraria ostensivamente falsa, que preenchiam e pesavam não em apenas um, mas nos dez dedos das mãos. Entrou no ônibus pela porta de trás, abraçando uma caixa como um bebê. Vendia canetas.

Havia do tipo executiva, de um metal leve; do tipo escolar, com borracha para amortecer a pegada, do tipo compacta, que se leva na carteira. Por algum motivo, achou que eu deveria gostar da multicor. Olhou para mim enquanto, com sua voz grave e a barba por fazer, anunciava a facilidade da caneta, que era um tipo econômico, quatro em um, que daria a praticidade de ter um colorido para a letra e outro para o sublinhado, e era de fácil manejo - ele demonstrava estalando os cliques, azul, verde, vermelho, preto.

Ele não sabia que eu não pinto a unha de branco, só de variações em torno de vermelho. E que não consigo escrever com canetas, por mais que tenham cores. E também não poderia imaginar que fiquei obcecada com a sua figura, em que a mão não condizia com o rosto, e com seu modo sutil de ficar um pouco incomodado com a falta de atenção dos passageiros, mas não o suficiente para se calar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mais sobre Botafogo, canto do mundo:

Parece que vai acontecer um crime a qualquer momento, nessa parte perto do cemitério. Oficinas mecânicas, restaurantes PFs, prédios com senhoras olhando os túmulos, carros buzinando incessantemente. Esquartejamento? Nunca soube. Mas muito provável.

Chama-se baixo Botafogo o lugar cheio de bares perebas ali no final da Voluntários. Foi lá que um amigo teceu comentários sobre a estreita relação entre Copacabana e Botafogo. Entendo. Um pouco. Ainda acho Botafogo mais tímido, mas decadente, mais cinza no interior e ensolarado nas laterais e, portanto, mais interessante.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Comentarista desconhecido

Vira e mexe recebo uns comentários muito bacaninhas de gente que não conheço e que acompanha os textos que esparsamente publico nesse blog. Gente que lê, escreve para mim, e normalmente diz que gosta das minhas linhas. Eu, mal-educada que só, não costumo responder. (A minha mãe me educou direito, eu fiquei estragada por conta própria.)

Então aqui vai um post em homenagem ao comentarista desconhecido. É bom ler os comments de vocês. Gratidão. Mesmo. É um post tipo uma estátua do soldado desconhecido, sabe? Então. Uma estátua para vocês. No meio da praça.

Muito legal saber que tem alguém que não conheço do lado de lá da janela.

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(Hoje acordei de bom humor e, por incrível que pareça, durou até agora.)